Porque ela agora fala. Não se limita a palavras, giras e espontâneas. Ela, efectivamente, fala. Conversa. Faz perguntas. Desconfio que saiba todos os vocábulos que nos fazem os dias e que temos sempre por baixo da língua de tantas vezes que lhes recorremos. Ela tem. E já adquiriu uma postura activa nesta pequena comunidade onde vivemos.
Se lhe apetece uma bolacha, vai ao armário e serve-se. Pega no copo e só porque não alcança o frigorífico pede a água.
Vai sozinha à casa de banho e faz questão de limpar-se.
Escolhe o filme que quer ver, liga o leitor, insere o DVD. E espera. Se não der, volta a abrir, tira o DVD e limpa-o ao pijama. Às vezes, aquece as canetas entre as mãos pequeninas, se não riscam o papel.
Decorou o código do iphone e desbloqueia-o, sem ajuda.
Despe-se, mas ainda não se veste, com excepção das cuecas.
Já não chora ao lavar o cabelo.
E já não chora ao chegar ao colégio.
Põe a mão na boca se tosse e limpa o nariz eficientemente, com fungos longos e firmes.
Se lhe chamas bebé, corrige-te, "não xou bebé, xou Constanxa".
E continua uma medrosa que só ela. Com as duas no carro, disse-lhes que íamos ao Continente. A Carolina não se pronunciou. Uns segundos depois a Constança havia reflectido e a choramingar fez-me um pedido:
- um vamos ao Continente, tá lá a Popota. Amos ao Lidl mãe".
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