15.4.13

Nas minhas mãos I




A cigana de preto, na roupa e na pele, indicou-me um lugar para o carro e abeirou-se de mim. Impedindo-me a passagem entre a minha e a viatura do lado.
A minha mãe resmungava, "não temos tempo. Vamos ao médico...". De imediato, ela silenciou-a "tu sofres das costas e não podes com as pernas".
Eu sorri.
Ela agarrou-me. Primeiro, numa mão. Resisti. Disse que eu era vaidosa; que o meu carro tinha mal (antes ele que eu)... E segurou-me na mão. Veio o mal de inveja, torrões dentro de casa, novamente o mal do carro e a linha do meu casamento.
Segurou-me na outra mão. Continuou. A linha do meu casamento está partida.
E eu sorria. E fotografava.
Tirou do bolso um crucifixo e perguntou-me se acreditava em Deus.
Sorri novamente.
Olhou-me, de olho azul e arregalado e num tom firme mandou "responde!"
Tem dias - assim respondi.
Passou-me o crucifixo por uma e a outra mão. E rezou. Pediu que lhe repetisse as palavras. Assim fiz, descrente. E sorria, perante a pressa da minha mãe.
No final, sugeriu (foi, pelo menos o que entendi) que pagasse uma missa e assim ficaria livre. Da minha vaidade, do mal do meu carro e a linha do meu casamento seria concertada.
Achei que depois do serviço a cigana merecia uma recompensa. Peguei num euro.
Ofendeu-se "uma missa custa 5 euros!".
Aceitou o euro a custo. Deitou-me uns olhos maldosos. E rematou, "tu não és feliz".
Eu caminhei. E sorri.
Mas, não é que a minha mãe não pode das costas e das pernas?!



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