30.5.13

Avós e netos




Filhos das minhas filhas, meus netos são. Dos meus filhos, serão ou não. Disse-me a minha avó (de quem eu era neta oficial, uma vez que sou filha da sua filha).
Não tenho nenhuma dúvida que o amor que a minha avó sentia por mim era diferente dos demais. E até nem acho que fosse por ser filha da sua filha mais nova que teve sempre como uma protegida. A minha avó só não me pariu. Criou-me. "Vivi" com ela durante 27 anos. Os anos que me foram permitidos até que a vi morrer. Partilhou a cama comigo desde as seis semanas de vida.
Mudou-me fraldas de pano (porque ainda sou desse tempo). Vestiu-me. Preparou-me Miluvit e fez-me sopa branca. Virou bicho quando lhe apareci com os joelhos esfolados porque uma rapariga maior me tinha batido.
Quantas vezes, já adulta, lhe entrei cama dentro e me enfiei entre a sua pela morta e flácida pela velhice.
A minha avó escritora, leitora, espectadora de noticias e reality shows...
A minha avó que intercedeu por mim com um namorado depois de me ver recusar comer por um desgosto amoroso...
Sentíamos, uma pela outra, um amor diferente. Diferente do que eu tinha pela minha outra avó. Diferente do que ela tinha pelos outros netos.
Haverá quem não entenda esse sentimento que varia em proporção. Porque não amo todos os tios ou primos da mesma maneira. Há alguns de quem nem sequer gosto.
Esta manhã, cruzei-me meia dúzia de vezes, no shopping com um avô e respectivo neto. Encontrei-o primeiro a abanar um cavalinho com a criança em cima. Lembrei-me imediatamente da minha mãe que em vez de meter o euro começa a abanar a geringonça enquanto aponta para as letras indicativas do valor e a ler A-V-A-R-I-A-D-O.
A seguir o miúdo correu para um comboio mais à frente e antes de chegar ao Continente ainda haveria de passar pelo carro do Noddy e pelo autotanque dos bombeiros. O avô tentava alcançá-lo, mantê-lo debaixo de olho...
Encontrei-o novamente quando saí da caixa. Já vinha com o miúdo dentro do carrinho das compras. Percebia-se que era um idoso humilde, mas a imagem que me fixou e que me fez sorrir-lhe - como raramente sorri-o, principalmente para estranhos - foi o sorriso parvo que trazia no rosto, como que a dizer "é meu neto! Trouxe-o até ao shopping para a mulher limpar o pó e mudar as camas porque amanhã é sexta feira. Estou velho e cansado, mas ainda corro atrás dele... não o perco... tenho canseira! E antes de ir para casa não me livro de lhe comprar um rebuçado... É meu neto!".

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