7.5.12

Os nossos momentos



Há dias atrás, discutíamos nas manhãs que eu adoro, com as pessoas que me são queridas, e onde as horas são milésimos de segundos - e alguém tem de preparar o almoço - sobre fotos... Na verdade, não era sobre fotos. Era sobre irmãos.
As minhas companheiras, ambas filhas mais novas, queixavam-se da preferência pelos primeiros filhos.
 - O meu irmão tem mais fotos do que eu - insistiu a Mary (já ouvi esta queixa mil vezes e mais uma).
 - Eu nem álbum tenho - desabafava a Catarina, entre um quê de graça e um salpico de resignação.
 - Em tua casa, tens mais fotos da Carolina do que da Constança - acrescentou a Mary.
 - Não é verdade - resmunguei.
- É sim- uniram-se as duas.
Não sei se a Carolina tem mais fotos do que a Constança. Talvez a Carolina tenha mais fotos impressas. Registos que se tornaram obras e decoram as paredes.
Mas, a Constança também tem...
A discussão sobre irmãos fica por aqui (mas prometo recuperá-la), para dar lugar à discussão sobre fotografia.
Isto, porque um anónimo me alertou - educadamente - para as últimas fotos que publiquei.
Há uns anos- e até no presente - quem ia ao fotógrafo pagar por uma sessão fotográfica e vi-a depois o trabalho exposto na vitrina da loja, exaltava de felicidade. E orgulho. Por ver, os seus bebés embrulhados em lençóis, ou dentro de jarras, pela moda (mais ou menos) recente do babyart.
Já dei comigo, numa fila de trânsito na montra de um fotógrafo, vestida de noiva. Gostei de me ver.
A Carolina, já fez não sei quantas vitrinas e havia gente que me ligava a avisar, "a tua filha está outra vez na montra", e mesmo de noite, lá ia eu, quantas vezes em pijama, contemplar a minha obra.
Comprei todas as fotos que o senhor fez para decorar a sua loja.
Com a internet e as redes de pedofilia, ganhamos medo.
Apontam-nos o dedo se mostramos aos outros o que de melhor - e mais bonito - temos. Por causa do medo. Da exposição.
Quando comecei com o blogue tinha decidido que não publicaria fotos. Nem minhas. Nem delas. Mas, rapidamente percebi que seguindo essa regra, iria contra o propósito deste blogue.
Este espaço não passa de um projecto pessoal. Um álbum. Um registo escrito. E fotográfico. De emoções. De momentos. Do orgulho. E do amor, que tenho por elas e que tive por outros.
Porque um dia, estando eu cá, ou não, tenho a certeza que além do meu vestido de noiva é o melhor que lhes posso deixar. Os nossos momentos. As minhas palavras (guardo as palavras e os desenhos do meu pai e a chave do euromilhões e o cadernos dos calotes da taberna da minha avó).
Maneiras, que este blogue só faz sentido com elas.
Tolhemo-nos pelo medo de se aproximarem das escadas; de se engasgarem com o rebuçado, de brincarem com terra no jardim... tolhemo-nos na internet e queremos preservá-los, esconde-los, achando que assim os mantemos protegidos de qualquer mal, inimigo ou enfermidade. Às vezes, caímos no ridículo de tanto exagero. Eu posso dizer, por experiência própria, que perdemos a saúde e a razão.
Agradeço ao anónimo(a) pela "dica" porque entendi que o disse por bem. E tenho a certeza que agora também me entendeu, a mim.

4 comentários:

  1. Não podia estar mais de acordo.

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  2. Já vi muita gente a poupar dinheiro para deixar de herança aos filhos. Propriedades, negócios. Nunca tinha ouvido ninguém dizer que lhes queria deixar "palavras" e "momentos".
    Os meus sinceros parabéns por isso.

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  3. E eu a pensar que tu só gostavas de sapatos e trapos...hehehehe

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  4. Ainda bem que percebeste a minha " dica" pois eu tambem sou mae e exponho as fotos do meu rebento, mas era incapaz de as expor sem roupa. Como tambem sei qual a finalidade deste blog que acima de tudo e escrito com muito amor para os teus mais queridos.

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