A cada minuto lembro-me do miúdo que desmaiou no café.
Não é o seu estado de saúde que me consome porque acredito - e após uma primeira avaliação dos bombeiros - que se tenha tratado apenas de uma quebra de tensão.
O que me arrelia é que todas as manhãs aquele miúdo está ali. Já lá está quando chego e por lá fica quando saio.
De lá, só sai para a escola.
Esta manhã, estudava inglês.
- eu estou bem, não preciso de ir ao hospital, vou ter teste e sei tudo, se não estivesse bem, não sabia - choramingava, enquanto o bombeiro lhe media a tensão.
Mas, foi. Sozinho na ambulância. Porque ninguém conseguiu contactar os pais. E é isso que me incomoda.
Desde quando é que nós, pais e mães, ou apenas encarregados de educação, nos permitimos estar incontactáveis????
Esperemos que o telemóvel nunca toque por motivos como este, mas se tocar devemos estar prontos a atender.
Eu não sou capaz de viver sem o meu iphone. A sério. Claro que gosto disto dos smartphones, de estar sempre ligada, de poder consultar o meu correio electrónico na fila do supermercado, de fotografar (com qualidade) tudo que mexe, mas porque ele também me liga a elas quando elas estão confiadas a outros.
Arreliou-me isto e não me sai da cabeça o miúdo a choramingar na ambulância. No cadeirão preto com um estranho fardado a picar-lhe o dedo.
São muitos os miúdos que passam o dia sozinhos ou entregues a alguém que não é da família. São muitos os pais que não estão contactáveis, nem quando eles adoecem, desmaiam ou simplesmente se portam mal.
ResponderEliminarSão muitos os pais que não vão ás reuniões e que nem se quer sabem o que os seus filhos fizeram o dia todo.
São mais do que alguma vez deveriam ser, são por um motivo válido ou não.
A realidade é dura, muito mais dura do que aquilo que possas imaginar...
Ainda hoje tenho na memória um miúdo que não abria a boca porque isso em casa era motivo de "porrada", que caminhava durante mais de 45 minutos para a escola fizesse sol ou chovesse torrencialmente e no intervalo isolava-se de todos pois não tinha lanche nem dinheiro para o comprar!! Isto foi à 2 anos apenas...
Pois eu até nem sou do género de me derreter com um bebé ou com uma criança. Há bonitas e nem tanto. Há fofas e algumas verdadeiros trambolhos. Há vivaços e moscas mortas. Há as de todos os géneros e formas (como nós, adultos).
ResponderEliminarMas, se tivesse 15 anos e ainda acreditasse que tinha poderes mágicos, estava-me nas tintas para mudar o mundo e promover a paz e a igualdade e a inclusão. Bastava-me mudar esses pais e essas mães. Levianos. Irresponsáveis. Isto é completamente condenável. E para mim, inconcebível.
Quem consegue viver com esse distanciamento dos filhos nunca os devia ter tido. Concordo totalmente contigo Menina das Sardas. Ana
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