4.7.11

Nós pais...



se fosse tão fácil como protegê-los da chuva...


Quase todos os pais querem o melhor para os seus filhos. Mas essa é uma premissa subjectiva. Se para uns, o melhor é serem milionários, para outros basta serem saudáveis. Se uns sonham ter filho doutor, outros só querem que trabalhem e levem uma vida correcta. Há ainda os pais que sonham ser avós e os que os preferem solteirões. E todos pensam ser o melhor. Note-se que nesta exposição sobre pais e filhos não foram colhidos para amostra aqueles monstros e “monstras” que os matam, espancam ou abandonam.
É claro que passa pela cabeça de todos nós, pais, ter um bebé de olhos azuis, a envergonhar o céu, um cabelo dourado, a fazer corar o milho da seara alentejana e de preferência que seja precoce. Que aos 6 meses seja capaz de todas as gracinhas e que comece a andar com oito. Claro que com 1 ano já será capaz de discursar depois de soprar a vela. Mas de repente, acabamos de jantar, sentamos o rabo no sofá e como não temos TV Cabo levamos com a SIC ou a TVI. "Pais processam maternidade, bebé nasceu morto, depois de 20 horas em trabalho de parto". Ou, "criança afoga num charco enquanto a mãe apanhava a roupa do estendal". "Nos Estados Unidos à procura de um milagre para curar paralisia cerebral da filha". "Bebé de 2 anos atropelado por tractor do avô". Ok, basta, já entendemos onde queres chegar, pensam vocês e acusam, por acaso até deves escrever coisas dessas todos os dias.
Acende-se uma luz e ouve-se “Eureka”. Que bom que é ter um bebé com um índice de apgar normal, com 3 quilinhos e 50 centímetros de comprimento. O cabelo é escuro, preto mesmo. Os olhos também, mas são grandes. E falam. A cabeça tem a forma de uma laranjinha. Não fazia gracinhas com seis meses, na verdade, acho que nem sentava. Lamento, também não andava com 8, começou a dar os primeiros passos com 14 meses. Não tem o percentil em 100%. Come pouco, anda sempre ali no limite mas tem uma energia, a danada. Gatinha, anda, corre. Se já escreve o nome dela? Ainda não! Se a mais velha já pede um bife em inglês e diz as cores todas em alemão? Também não. Devo ser uma péssima mãe! Fralda? Sim, ainda tem, tipo, ela só tem 15 meses... Meu Deus, sou mesmo a pior mãe e se era para ser assim devia fazer como a Leonor Cipriano e tê-las dado aos porcos.
O que eu queria dizer é que as mães – como eu – de crianças que acabaram de completar 6 anos, se debatem com a dúvida “público ou privado”. A questão recorrente quando nos cruzamos apressadas nos corredores do colégio é “para que escola vai fulaninho?”. Eu reconheço que hesitei em relação à escola, nunca no que concerne ao ensino. Primeiro porque nunca chegou a ser opção. Segundo, não teria dinheiro para pagar um estabelecimento privado. Não gosto de estereótipos. Há tempos conheci umas crianças que me diziam com a maior naturalidade perante o sorriso de orgulho dos pais, “o meu melhor amigo é filho de um medico e a melhor amiga da minha irmã é filha de um senhor que faz casas, quer dizer, manda-as a fazer, entendes, não é o trolha, é o que manda no trolha”. E na festa de fim de ano do colégio, um miúdo da idade da minha respondia-me que ia para o colégio tal porque a mãe o tinha convencido que ele era um menino especial e não se podia misturar, então essa especialidade era condição obrigatória para freqüentar um privado. Dass! Que crianças são estas? Ou que adultos podemos esperar?
Quem fala de ensino, fala de saúde. Ainda há pouco tive uma experiência (quase) traumatizante no CHAA, mas garanto que foi mil vezes pior a que tive no hospital privado acabadinho de estrear. Já para não falar nos acontecimentos surreais que uma amiga viveu lá.
De repente lembrei-me das aulas de preparação para o parto – nesta última gravidez – a dada altura, a enfermeira perguntou onde cada uma teria o bebé. A maioria respondeu no hospital (público), mas duas ou três abriram a boca para dizer, na Trofa, na AMI... e a enfermeira fez-lhes ver que optar por um privado ia contra o que estávamos a aprender. E foi mais longe mostrando-lhes, pelo menos, uma mão cheia de experiências que no público se resolveriam facilmente e no privado bastava para correrem risco de vida. Mas, elas, muito ofendidas, porque a opção era delas, e Deus me livre e guarde de entrar num hospital e sofrer e estar ali de pernas abertas...
Nunca pensei ir para o privado e ainda bem porque se o tivesse feito, hoje não teria aqueles olhos grandes a olharem-me cada vez que abro a porta do quarto. 

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