4.7.11

Doenças raras


se lhe concedessem um desejo ela só queria ouvir-lhe a voz



Casou cedo. Engravidou por desleixo. Com seis meses de gestação dava à luz, de parto normal, um bebé...diferente. Um bebé que continuaria a sê-lo vida fora. Mesmo que sobrevivesse só durante quatro anos, como estimaram.
O seu filho era uma espécie de bicho raro. Estrela da companhia da comunidade científica. Pareciam entusiasmados com aquela criança de olhos afastados, narinas achatadas e maformações nas mãos e nos pés. Respostas? Não as tinham. Continuam a não ter. E quando dá entrada na urgência leva uma etiqueta com a síndrome. E quase sempre ouve “ah???”.
É o seu filho. Único. Não teve coragem para mais. Tem 40 anos e metade da sua vida tem sido vivida a lutar contra esta “maldição”. Não foram só quatro. Foram mais 16. De comida à colher, água à colher. De colo. Convulsões. Internamentos (mais de 100). De evacuar por ele as fezes de cinco em cinco dias porque, ele, não o faz. Não sabe.
Trabalha das 8 às 20. De casa em casa, a limpar a desordem dos outros quando é a sua própria vida que precisa de uma grande lavagem, daquelas mais eficazes que as que se fazem na Páscoa.  No regresso carrega o filho para casa. O marido não trabalha. Não carrega. Não alimenta à colher. Não muda fralda. Não limpa cocó.
É um amor invisível. Ela não o sente no beijo. Ele não o sabe dizer na fala. Ela não o sente num abraço. Mas existe.
Esta semana...vocês sabem onde.

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