24.3.17

Coisas sérias da gravidez.


Soube que estava grávida no dia 29 de Janeiro.
A verdade, é que logo após a concepção percebi mudanças nas mamas. Alterações evidentes que fui desvalorizando porque era ainda demasiado cedo para confirmar a gestação.
No dia 29 de Janeiro - sem estar ainda com atraso menstrual -  pressionada pela Carolina, fomos ambas à farmácia comprar um teste e fechámo-nos as duas na casa de banho. Não estava em atraso e nem sequer era a primeira urina do dia. E o resultado foi claro. Inequívoco. Recolhi o teste porque a Constança fazia questão de ver.
A minha maior foi a primeira a saber. Menos de 60 minutos depois, sustentada pelos seus quase 12 anos, desatou num pranto. Entende as mudanças que um bebé acarreta. Receia a chegada de um novo elemento. Já vê para além do lado puramente romântico.
Souberam primeiro as três meninas do que o pai. Reservei a partilha para o dia seguinte, Sábado, num jantar a dois (mais tarde partilho convosco).
Nessa sexta-feira senti-me especialmente serena.
Na gravidez da Constança, aquando da primeira ecografia, já realizada no hospital que serve para despistar o risco de trissomias e má formações não voltei a esquecer as palavras do médico, um tipo novo, com aspecto de estagiário e talvez pelo ar inexperiente, achei-as totalmente despropositadas. Disse-me ele enquanto me percorria o útero com o ecógrafo, "normalmente as coisas correm bem, mas há excepções".
Na minha segunda gravidez, salvo o parto, não testemunhei nenhuma excepção. A gestação foi absolutamente normal, sem nenhum sobressalto.
Agora, grávida pela terceira vez, acabadinha de terminar o primeiro trimestre, começo a respirar de alívio.
Nos primeiros três meses tive quatro sangramentos e estive três vezes no hospital. E as palavras do estagiário ecoam-me na cabeça, "normalmente as coisas correm bem, mas há excepções".
A primeira vez que perdi sangue foi de madrugada. Não tinha mais de seis semanas. Esperei que amanhecesse para ir à urgência. Foi difícil porque com tão pouco tempo de gestação não tinha ainda visto o bebé e temia pelo que encontrariam. Mas, encontraram-no. Apenas um ponto que tremia (o coração é o primeiro órgão a formar-se). E a confirmação. Feto com batimento compatível com seis semanas de gestação e a conclusão que estava tudo bem. Nem sombra de descolamentos. Nada que justificasse a perda de sangue. Então e...? Mas, não pode ser...Sou absolutamente insuportável. Não baixo a cabeça e me resigno perante a pressa de me mandarem embora porque lá fora aumentam o número de pulseiras amarelas.
Saí do hospital sem nenhuma recomendação. Nada! E com a certeza que estava tudo bem.
Liguei imediatamente ao meu ginecologista que por essa altura não estava em Portugal que me recomendou repouso.
No dia seguinte, sexta-feira, aproveitei para tirar o dia. Estava novamente deitada quando senti mais uma pequena descarga de sangue. Chorei como uma Madalena. Sucumbi. Atirei a toalha ao chão.
Por telefone, o meu ginecologista aconselhou que me deixasse estar. Não valia a pena correr para o hospital outra vez, quanto menos mexesse melhor. A recomendação era esperar e confiar.
Passou uma semana até que mais uma vez, em modo descanso, voltei a sangrar uma quantidade um pouco maior. Esperei pela manhã seguinte e lá recorri outra vez à urgência com o coração nas mãos convencida que daquela vez tinha perdido o bebé.
Mas, afinal não. A pequena criatura lá continuava cheia de pujança e cada vez maior. Comovi-me. Mais uma vez, nada, nenhuma razão clínica que justificasse as perdas.
Finalmente, há um mês estava eu no Afonso Henriques a ver o Vitória - Moreirense, feliz da vida, em vésperas de gozarmos uns dias de férias de Carnaval, quando me dou conta, não de uma perda de sangue, mas de toda uma enxurrada. Parecia que tinha sido baleada. Começo a entrar em pânico. O estádio cheio e eu ali a esvair-me em sangue. Saímos o mais rápido, e discretamente, que conseguimos, e corremos para o hospital.
Tinha perdido uma enorme quantidade de sangue. Estava apavorada. Aqueles minutos em que nos despimos e o médico vai tranquilamente ligando o ecógrafo são penosos. Doutor e se o meu bebé já não estiver aí...? Fale sempre comigo. Diga-me logo o que está a ver. Agarrada à mão do homem, (o meu) suspirei e ouvi, "pronto... feto com batimento, nove semanas de gestação. Está tudo bem". E lá continuava o pequeno, cada vez mais cabeçudo, indiferente a tantas ocorrências. Nada que justificasse o sangramento. Percorreu-me o útero a pente fino e tudo na perfeita normalidade.
Não voltei a sangrar. E fico muito agradecida se assim continuar. Durante a gestação o útero tem muita irrigação sanguínea e qualquer movimento, inclusive do próprio saco gestacional, pode romper um vaso e originar perdas de sangue.
Cerca de 40% das mulheres grávidas experimentam um episódio de sangramento no primeiro trimestre da gestação e deste número, metade acaba por abortar espontaneamente.
Graças a Deus virei o primeiro trimestre. O meu sacaninha está bem. E eu também.

2 comentários:

  1. Que bom! Fico muito contente! Por estar bem, e por esta nova etapa, que - curiosamente - partilhamos! Por estes lados, 17 semanas de uma muito serena 1ª viagem! :) Um beijinho! Felicidades mil! AnaF.

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  2. Parabéns por esta nova etapa na sua vida já acompanho o seu blogue à uns anitos :) e sempre com saudades da sua escrita e desta vez, apesar de não a conhecer pessoalmente, emocionei-me, como lhe escrevi à uns tempos...depois da tempestade vem a bonança. È uma migalha de gente...um lutador... um abraço enorme. <3

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