20.3.18

Cagadas de adolescentes



Uma destas manhãs, enquanto nos preparávamos para sair de casa, a Constança insistia em chamar-me. Estava a dois passos dela e pedi-lhe que falasse, mas a miúda consumida a solicitar a minha aproximação ao nível da sua boca. Queria segredar-me algo. Ora, dentro do quarto, só estava eu, ela e a Maria João e não desfazendo a personalidade da minha pequena criatura e a não ser que assumisse a personagem do Olha Quem Fala - lembram-se do filme com o John Travolta e da Kirstie Alley em que os bebés falam - seguramente a João não exporia o seu segredo. Ainda assim, baixei-me ao seu nível.
 - Mãe, não tens noção há quanto tempo não faço cocó - confidenciou-me com preocupação.
Pequena Constança herdou de sua mãe a nobreza intestinal, toda a gente sabe que as princesas não fazem cocó.
Poucos minutos depois, abeira-se de mim para se queixar de dores de barriga.
 - Talvez esteja na altura de abrires uma excepção e permitires uma descarga intestinal, coisa pouca, o suficiente para te manteres assim, linda e maravilhosa, sem inchaços abdominais.
Olhou-me desconfiada.
 - Mas, tu estás na casa de banho...
 - Esquece isso, estou tão concentrada a maquilhar-me que não será um cocózinho a distrair-me...
 - Ó mãe isso não vai acontecer - respondeu-me, quase, ofendida com a proposta.
 - Então vai à outra casa de banho.
 - Mas, está lá a mana!!!!
Praticamente, no mesmo instante, a Carolina entra-me quarto dentro.
 - Mãe emprestas-me o lápis preto?
 - NÃO SAIAS DAÍ!!!! A MAMÃ NÃO SABE DO LÁPIS. PROCUREM AMBAS. MAS NÃO SAIAS DAÍ!!!! - ordenou-lhe a Constança, de dedo em riste e voz elevada.
 - Ela só precisa de fazer cocó - expliquei-lhe depois de a Constança sair.
 - A sério????
Quando nessa mesma tarde lhe liguei pelo facetime e me atendeu numa casa de banho com 2 metros quadrados que partilhava com mais três amigas sendo que uma delas evacuava na sanita enquanto as restantes actualizam o Stories do Instagram entendi a sua estupefacção perante o direito à privatização do cocó da sua irmã.
Eu não faço cocó, mas se por uma infelicidade orgânica isso tivesse de acontecer, não concebo soltar um submarino flutuante com olhinhos a piscar às minhas amigas e deixá-lo ali a marinar em águas duvidosas enquanto me higienizava numa espécie de orgia, eu elas e o meu cocó. Pior mesmo é imaginar o stories com adolescentes tontas de língua de fora e o enviado especial dos intestinos mesmo ali ao lado.





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