6.6.12

Dotes



A minha avó repetiu-me tantas vezes a história de um homem que devolveu a esposa quando, após o casamento, percebeu que não sabia cozinhar, lavar e passar, nem coser. Jurou-me a pés juntos que esta história era tão real como o milagre de Fátima.
A julgar por aí, há muito um estafeta me tinha despachado.
Cozinho, quando me apetece. Nunca lavei roupa em 30 anos de vida e contam-se pelos dedos de uma mão as vezes que a passei. Sei coser, embora não cosa.
Sou princesa dos tempos modernos. Gosto de Chanel, CK e LV. Prefiro o sapo ao príncipe encantado. E cavalos brancos, só os do meu carro.
Os dias têm sido cansativos. E longos. Tenho duas crianças e um acamado no sofá.
Reconheço que já o olho de lado sempre que me solicita.
 - Podes pôr um DVD?
 - São horas dos medicamentos.
 - Apetece-me pipocas.
 - E se me desses um banhinho?
 - Fazes-me um café?
E que tal vires comigo ao shopping? Estou a ressacar por compras. Eles emprestam cadeiras de roda e assim passeias sentado e eu esqueço por momentos o teu pé coxinho e a língua de fora aos 3 metros.
Nunca me passou pela cabeça ser enfermeira. E não precisei da última reportagem para perceber que me mantenho firme.
Não gosto da dependência. Da fragilidade. De ser noite mesmo quando é dia

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