3.7.12
Fodido isto pá!
Foi há mais de um mês que parte do pé do homem entrou em fase terminal. A progressão foi rápida, mas matreira e se às vezes parecia que a ferida sarava e a pele regenerava, noutras virava-se a cara só de olhar.
30 dias de tratamentos diários; três caixas de antibióticos; cortisona; antiinflamatório; drenagem e hoje perante a ausência do médico assistente na USF, a clínica que veio observá-lo ousou comentar o que viu da forma mais infeliz que lhe foi possível.
- não tem vergonha de ter o pé assim? Um homem tão jovem...
O meu homem não é de ripostar. Tão pouco de se indignar ou questionar. Só imagino o ar de incredulidade que deve ter feito. Enquanto ela continuava.
- Eu quero é falar com a sua mulher por causa de uma reportagem...
E a enfermeira (esses profissionais que nos cuidam e nos asseguram cuidados primários e a quem querem pagar menos que o salário mínimo nacional) interrompeu...
- Doutora, desculpe, mas veja o pé e esqueça o resto.
Modos que minha senhora - a quem continuo a ter em boa conta - eu também tenho dias maus, a sério que tenho, e problemas pessoais, profissionais. Veja bem que o meu pai morreu com cancro na cabeça apenas com 50 anos. Eu tinha 20.
Durante o velório fritei batatas e no enterro fui para a casa de banho e fingi que o tinha sentado no bidé ao meu lado.
10 anos depois, tomo xanax todos os dias e AD porque vai-se a ver e a minha cabeça avariou. Fodido isto né? Refiro-me aos ataques de pânico. Pensares que estás a morrer porque a língua está dormente, o coração a mil, suas quentes e frio, no mesmo momento e só queres cair esticada para aquilo acabar.
Primeiro um dia. Depois o outro. E de repente anulaste, enquanto pessoa, mas custa mais quando a mãe que sempre foi galinha desaparece e deixas de querer ouvir os seus passinhos quarto dentro.
Dias maus, também tenho. E isso não me dá o direito de assistir um acidentado em paragem e dizer-lhe, "oh filho, tão novo, e chegas aqui assim?! Desfigurado! Ainda agora almocei e tenho que levar contigo, cheio de feridas expostas e politraumatismos com massa encefálica a sair dos olhos e do nariz. Por amor de Deus és tão parvinho, não sabes que não importa o sinal estar verde, só passas a rua quando já não houver carros".
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Muito bom! Fartei-me de rir com aquela da massa encefálica a sair dos olhos e do nariz.
ResponderEliminarEspero que a médica seja leitora do Menina das Sardas.
É uma vergonha a saúde que temos.
ResponderEliminarO teu marido não reagiu??? Se fosse comigo não ouvia calado. Por isso é que depois dizem que a nossa saúde é uma vergonha. É por causa de gente que come e cala. Fernando Lima
ResponderEliminarO problema é que muitos médicos - principalmente os mais velhos - continuam a achar-se Deus.
ResponderEliminarAs melhoras para o teu marido. Isso é que é importante.
ResponderEliminarAdmiro-te ainda mais por saber que sofres de pânico. Sei o que isso é porque sofri horrores com uma pessoa muito próxima.
ResponderEliminarE pensar que quem te lê nunca imaginaria... pareces tão forte, decidida, bem disposta, cabeça arrumada e principalmente segura... Daniela