Números

- Não me apetecia andar de bicicleta (pausa)... fiquei a conversar.
 - A conversar…? Sobre o quê?
 - Olha, sobre a vida.
 - (Sorri) o que sabes tu sobre a vida?
 - Sei que é tudo uma questão de números…
 - De números…?
 - De matemática…
 - Explica melhor…
 - A piscina, por exemplo, precisaste de fazer contas para saber o espaço que ela ia ocupar. Ou esse biquini que estás a usar, tiveste de fazer contas para ver se o podias comprar… Se fores fazer um bolo, precisas dos números para saber as medidas…Ou contas os dias que faltam para irmos de férias, ou para o Natal… Queres mais exemplos?
 - (Sorri).
 - É tudo uma questão de números.

Ontem, foi o número 30. E não sei se foi por termos tido esta conversa (eu e a mais velha), mas são só números que me piscam no cérebro.  Como os despertadores de quarto. Ou os cronómetros dos jogos olímpicos.
Números; tempos; horas;  recordes, medalhas (de ouro e de latão). Vitórias reais e morais. Derrotas também. Lágrimas (poucas). Colecções - de sapatos, vestidos e perdas. Perdas efectivas. Mortos a mais em 30 anos.
E ontem que os alcancei quando o relógio bateu as 11 da manhã, só penso que vivi 10 anos sem ele. Sem a figura dele. O cheiro dele. As suas mãos, sempre tão limpas. A sua gaveta, tão arrumada. E organizada.
10 anos parece-me tanto, num capítulo tão recente.
Metade dos 30 anos, passei com o homem que tenho. Entre amuos e separações. Desconfiança, às vezes. Ciúmes. Tardes de amor com a janela semi-cerrada. James no leitor. Amendoins na praia.
Depois elas. A primeira nos últimos 7 anos. A segunda há dois.
Há três ruiu o muro.