10.9.12

Cuidar



Logo após o meu pai morrer - muito pouco tempo depois - decidi fazer uma reportagem sobre o apoio domiciliário.
A ideia era acompanhar uma equipa que apoiava famílias carentes - doentes, ou não - independentemente da idade.
A reportagem foi realizada num concelho que não Guimarães onde há mais gente velha, doente e necessitada.
Tinha tudo para correr bem, não fosse o meu pai ter morrido, tipo há 15 dias.
Enquanto que as funcionárias iam deixando o almoço, entregue em mãos, nos passeios das portas e os beneficiários agradeciam entre graças e bons dias, tudo bem. O problema foi quando me deparei com o primeiro acamado, de olhar mortiço e sonda no nariz. Naquela cama, entregue. À espera.
Eu não choro - muito menos, ali, em trabalho - mas a comoção...aquele entalo na garganta foi do mais insuportável que senti.
Há pouco tempo recuperei a essência daquela missão, mas desta vez não acompanhei prestadores de serviços, mas cuidadores da saúde (enfermeiros), que vão às casas tratar as feridas - do corpo e da alma. E correu melhor. Não porque estou mais forte, mas porque já lá vão quase 10 anos, em vez de 15 dias.

2 comentários:

  1. Li a reportagem no Comércio de Guimarães.
    Comovi-me. Tenho a minha avó acamada e o que descreveste é rigorosamente o que sentimos. Parecia que estava lá.
    Muito bem escrito.Só devia ter sido mais extensa.

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  2. Eu também li. E até chorei porque tamb+em perdi um familiar nessas situações há pouco ytempo e por acxaso conheço os enfermeiros que estão na reportagem.

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