19.11.12

Hoje julgaram-me burlona



Primeira reacção: Isto está mesmo a acontecer?????
Segunda: saltar-me a tampa.
Terceira: respirar fundo; 
Quarta: engolir o sapo.
Quinta: sair.

Em poucas palavras foi isto.
Estou há vários dias em reportagem numa freguesia distante. De um concelho pequeno. 
É uma aldeia. Envelhecida. Só lá vivem velhos e crianças. Não há jovens. Emigraram ou imigraram. E os que ficaram, só a usam como dormitório.
Mas, é boa gente como o vinho que produzem e a laranja que colhem.
O presidente de junta é um homem inteiramente dedicado à autarquia local e sempre disponível. Pedi-lhe que me referenciasse um idoso que ali tivesse nascido e sido criado. Indicou-me o seu padrinho com mais de 90 anos, intelectualmente são e ainda condutor de veículos de duas rodas. Deu-me a morada. Fui ao seu encontro.
Depois de estropiar (tinha mesmo que usar este verbo), apareceram dois idosos. Apresentei-me, praticamente aos gritos porque os ouvidos estão gastos pelo barulho da mota. Expliquei-lhes porque ali estava e perguntei se podia perguntar-lhes umas coisas. As simple as that..
A mulher olhou-me de lado. Pediu que me afastasse da porta da entrada. Nem o nome me quis dar.
Para deixá-los mais seguros liguei ao presidente de junta que falou ao padrinho e lhe transmitiu que eu era de confiança. Ele ficou convencido. Ela não.
Mas, acabamos por conversar e até saí dali a pensar que tinha ganho a confiança do casal. Até porque foi a mulher que depois me indicou a morada de outra pessoa com quem queria conversar.
Despedi-me.
Quando estava noutra casa, à conversa com uma mãe do coração irrompe porta dentro um homem alto com cara de malvado, caneta na mão.
 - A senhora quem é?
 - Andreia Lopes, como está?
 - A senhora não sabe que não pode ir sozinha ter com idosos? - confronta-me aos gritos.
 - Desculpe?
 - E vai-me mostrar imediatamente o que era o papel que estava a escrever.
 - Eu sou jornalista (saquei da carteira e tudo), estou na sua freguesia em trabalho. Expliquei ao que fui. Mais,  pus os senhores a falarem com o presidente de junta que também é afilhado. E não admito que em circunstância alguma questione a minha seriedade e é isso que está a fazer.
 - Eu já lhe tirei a matrícula. Está aqui - gaba-se de papel no bolso e caneta na mão - não pode ir ter com idosos - insiste.
 Tirei os meus apontamentos e fiz questão de os mostrar. Não devia, porque o homem imediatamente mos roubou (é esta a palavra).
Respirei. Liguei ao presidente de junta que do outro lado se mostrou claramente envergonhado.
O homem arrancou-me das mãos o telefone. Gritou com o presidente de junta.
Devolveu-me o telefone e desapareceu com a folha do meu notebook.
Novo suspiro.
 - Ai menina, estou toda a tremer. Desculpe. O meu filho devia de lhe ter batido...
 - Estive quase - acrescenta o filho.
 - Está tudo bem, não se incomode. O importante é que a senhora entendeu a razão da minha presença aqui e eu agradeço-lhe a disponibilidade.
Saí. Entrei no carro. Liguei para partilhar o que me tinha acontecido quando me voltam a estropiar no vidro do carro.
 - Menina, está a falar com o presidente de junta? - perguntou-me o filho
 - Não... - respondi.
 - Então ligue-lhe porque ele já tem o seu papel. Aquele homem é casado com uma professora, mas é assim, um parolo. 
 - Estou toda a tremer - insistia a senhora.

E assim, desta forma divertida, terminou a minha manhã.

1 comentário:

  1. Nossa senhora.
    Estou aqui a estudar Ciências da Comunicação e ponho-me a pensar se isto me acontece a mim ...

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