12.12.12

Um apelo



Há oito meses escrevi uma reportagem sobre um miúdo de Guimarães portador de uma doença muito rara. O Rúben é o único português diagnosticado e em todo o mundo os casos não vão além de uma centena.
Conheci-o, casualmente, na USF, enquanto ambos esperávamos pela consulta.
Quando o vi julguei que teria alguma paralisia cerebral. Mais tarde, a mãe explicou-me a sua doença.
Sentado na cadeira de rodas, sempre de boca aberta, com a baba pendente sobre a gola da camisola, o Rúben falava sem parar. Chamava por mim e pelas meninas. E sorria. Como se as pernas nunca lhe tivessem falhado.
A reportagem sobre o Rúben foi publicada e imediatamente a seguir gerou-se uma onda de solidariedade. Gente que ligava, que queria ajudar, abrir contas bancárias e páginas no facebook. Mas as intenções não passaram disso mesmo, de intenções.
Esta semana reencontrei a mãe do Rúben, já sem ele. Estava sozinha no USF e veio imediatamente ao meu encontro, entre a comoção no olhar e o sorriso envergonhado nos lábios.
Perguntei-lhe pelo Rúben. A comoção aumentou. Porque o Rúben já não anda. E passa os dias em casa num estado semi demente. 
Contou-me a senhora que o neurologista lhe tirou a medicação, como que a desistir daquela causa. Pior, como que numa tentativa de antecipar o desfecho. Mas, sem a medicação, o Rúben fica emocionalmente alterado, agressivo. E como consequência desse comportamento foi impedido pelos professores de ir à escola. Dizem que constituiu perigo para as outras crianças e que perturba o processo de aprendizagem.
Como se tudo isto não fosse já demasiado dramático, a Segurança Social e a Direcção Regional de Educação do Norte cortaram os apoios. Já não comparticipam fraldas, medicamentos e desmarcaram-se do compromisso de uma nova cadeira de rodas. Entretanto, o pai do Rúben também deixou de pagar a pensão de alimentos.
Maneiras que Ticiana preciso de ti.

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