12.3.13

Eu, a minha mãe e os mortos

Não estou constipada, estou só com sinusite. E ainda não consegui escolher entre a primeira e a segunda.
Já fui a dois velórios desde o início do ano.
É Março e a Mary que é uma querida já tratou de esgrimir os seus argumentos matemáticos e lembrar-me que falta outro para a média brilhante de um morto(a) por mês.
Sou daquelas pessoas que têm todo o ar de corajosas, rochedos inquebráveis, mas quando tenho um morto a 5 metros de mim, sinto uma espécie de achaque que no meu dicionário pessoal está algures entre um ataque de pânico (levezinho vá) e uma quebra de tensão. Não que o morto me pese na falta porque nunca o vi sequer vivo (primo da minha mãe, coitado, finou-se de repente entre uma dor de cabeça e umas pontadas nas costas), mas incomoda-me o seu sangue parado, o gelo das mãos cobertas pelo tule do véu.
Incomoda-me isso e a lágrima fácil da minha mãe. Quando se aposentar vou abrir uma empresa de carpideiras profissionais. A mulher cumprimenta, apresenta condolências e verte lágrima. Fica-lhe bem pá. O ente querido revê-se no gesto e abraçam-se como se tivessem tomado um café na véspera, mas a verdade é que já lá vão quase 30 anos desde que se viram pela última vez.

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