15.6.14

Ai o caralho!

Percebo que no norte do país falar português vernáculo seja normal. Só que o normal numa parte do país é de extrema rudeza e falta de nível noutra parte. Quem tem um blog é mais ou menos como ter uma loja. Tem que se agradar a gregos e troianos. Logo um pouco de moderação na linguagem usada seria extremamente apreciada.
IM


Imagine a IM qual é a primeira coisa que me vem à cabeça quando leio os seus comentários sempre tão despropositados críticos em relação aos meus ditos.
Podia ser "foda-se a mulher", mas não, isso seria muito rude, ainda que eu seja - orgulhosamente - desta "parte do país", "rude" e sem nível - desnívelada, portanto. Questões de relevo que deixamos aos especialistas.
Penso exactamente o mesmo que penso quando de madrugada me incomoda a bexiga e no escuro da noite, ao alcançar a casa de banho, esbarro com o mindinho na esquina da porta. 
A IM diz que percebe, mas não percebe coisa nenhuma e isto nem sequer é uma qustão geográfica, a não ser que falemos de geografia a uma escala universal. 
Estou agora a lembrar-me do Graham Chapman, um dos Monty Python, falecido com 47 anos, penso que no ano passado, que se orgulhava de ter sido o primeiro actor a dizer shit (merda) em directo na televisão. Nas suas exéquinas fúnebres, em sua homenagem, e desde o púlpito da igreja, John Cleese proferiu fuck. Até o padre se riu.
O "português vernáculo" é para nós, desta "parte do país", expressão coloquial. Trazemos sempre um caralho, ou um foda-se na boca, e atrevo-me a garantir-lhe que os usamos mais para o bem do que para o mal.  Possivelmente, ao contrário de vocês, "dessa parte do país" que o usarão sempre para insultar.
Ia agora falar-lhe de um estudo, publicado recentemente, que atesta que o palavrão alivia o stress e a dor física, mas lembrei-me de outro exemplo. Está a ver o galardoadíssimo e oscarizado filme sobre a gaguez do rei (King´s speech) em que ele -o rei -  é levado a proferir, sem gaguejar, uma autêntica lava de palavrões reprimidos pelo regime aristocrático? Pois então, saiba que é centenário o uso do calão / palavrão. E "nesta parte do país", o palavrão é história. É filosofia. É autenticidade. Vulgares e ordinários, mas genuínos também. São de todos. Dos doutos e dos analfabetos.
Imagina a cara IM que dirigirmo-nos a alguém dizendo "ó meu caralho" é um cumprimento pejado de carinho, utilizado amiúde pelos idosos ao encontrar os netos ou crianças queridas?
Eu, por exemplo, conseguiria ser bem mais mal criada sem usar um único palavrão. Note-se o seu exemplo.Foi a IM quem foi rude e indelicada com "esta parte do país" e não precisou de nenhum caralho.
O português correcto é aquele que é falado, e escrito, sem erros de concordância, de sintaxe, de gramática e ortografia. E, já agora, com respeito pela história e pela cultura.
Como escreveu o afamado Miguel Esteves Cardoso, os palavrões são "indispensáveis a quem tenha necessidade de escrever ou falar".
Se a miúda me pede leite de madrugada e percebo que acabou, reclamo um "foda-se" e não quero com isso sugerir que o leite vá foder com o biberão. Do mesmo modo, que é legítimo a uma prostituta dizer "raisparta a puta da vida".
Citando, novamente o Miguel "é pior falar mau português do que falar mal em bom português". E não é com os palavrões que se fode a língua, mas isso já são outros quinhentos.

12 comentários:

  1. Que belo texto na defesa do palavrão. Esse bicho tão gosmento, tão escorregadio nas línguas nascidas no norte e tão áspero nas línguas do sul... Cansa-me esta conversa do palavrão que fere os ouvidos - ou os olhos - dos mais delicados e sensíveis aos palavrões, independentemente, dos contextos. Cansa-me ainda mais esta incansável vontade de distinguir o palavreado rude do norte com o palavreado afectado do sul. Pois, o que acontece é que quando as línguas rudes se deslocam ao sul embalam os ouvidos sensíveis do sul, Ficam maravilhados, riem, descontraem ao ponto de, imaginem, também se atreverem a dizerem uns palavrões. Baixinho, não vá a censura das regiões andar à escuta. Ora, adoro ouvir os ditos do sul a dizerem "tefona-me", mas nem por isso corro para todos os blogues com autores do sul a insultá-los por eles provavelmente dizerem "tefona-me" várias vezes ao dia. E porquê??? Porque, dá-se o caso da pessoa até dizer telefona-me e eu estar a apontar o dedo com grande crueldade. Sou do norte, fã do palavrão, mas não o uso com frequência. Quando me desloco ao sul, ninguém me pergunta como estava o tempo cá por cima, perguntam-me se não digo palavrões.... Não para ser a "palhaça" da festa, mas sim para eles poderem verbalizá-los, como se de um acto de libertação se tratasse. Leiam os textos, desfrutem das histórias e libertem-se de preconceitos...

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  2. Obrigada pelo texto, muito bom.
    Finalmente alguém explica com alguma sustentação o uso do calão.
    CC

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  3. Eu gostava de saber o que essa IM diz quando ferra a língua.

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  4. Tem que agradar a gregos e troianos???? Não, não tem. Não tem que lhe agradar a si por exemplo. Eu só como aquilo que gosto.

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  5. Ao ler este texto lembrei me logo da minha avó, sempre que a visitava com o meu filho, a primeira coisa que ela lhe dizia era "meu caralho anda cá dar um beijinho". A minha avó faleceu já pouco tempo e eu sinto muito a falta desse palavrão, porque era exactamente como disseste, dito com carinho.
    Obrigada pelo texto.
    ❤️

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  6. Inteligente, como sempre.
    Cada vez gosto mais de cá vir.

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  7. Ai Andreia a serio que perdes tempo com isto? Era mandá-la para o ca#%}$.

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  8. Vamos fazer as apresentações?? Querida IM.... Era de bom grado que se desse a conhecer, depois do protagonismo que esta querida lhe deu.

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  9. Eu só não concordo com esta generalização. Sou do norte, raramente me sai um palavrão e conheço muita gente que também não os diz. Nada contra, só acho exagerado gentes do sul referirem que para as gentes do norte é normal e habitual o uso do palavrão.

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  10. Eu cá não sou do Norte e lá em casa.. Jazus.. somos uns mal educados!!!! tenho 2 filhos, nenhum repete as asneiras que eu e o pai dizemos, porque dizer asneiras é uma coisa, saber ensinar os filhos é outra, e disso eu gabo-me, faço as duas na perfeição!!! (Filho com 20 anos e filha com 9)
    Aliás, vim ter a este blogue porque me identifiquei imenso com a "mal-educada"! Conheço casas ode é proibido dizer "merda" em frentes às crianças.. para elas não repetirem.. eu costumo dizer, que se as souberes educar elas ouvem tudo e não repetem nada! experiência própria!
    Bem haja
    Patricia

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  11. Anónima das 14.15 tem de cá vir mais vezes, não é Patrícia!!! A Menina das Sardas chama-se Andreia ;-)

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