5.6.14

Morreu???

Habituei-me a vê-lo de fato de treino (invariavelmente de fato de treino) com umas sapatilhas calçadas que lhe faziam uns pés enormes. Era, na verdade, um homem grande, de pernas compridas. Tinha ar de quem praticara desporto em novo.
Habituei-me a vê-lo à porta de casa, sentado num banco, a ler o jornal. Sorria-me sempre. Habituei-me a simpatizar com ele.
Em tempos, idos há muito, a minha avó, nascida em 1920, mais nova do que ele, contou-me da história que ele a puxara em cima de uma burra numa procissão qualquer. Habituei-me a brincar com o boato do romance da minha avó e do senhor Salgado.
A minha avó, mais nova, foi-se há quatro anos.
O senhor Salgado, funcionário do Teatro Jordão, amante de filmes indianos e de corridas, apreciador de umas boas pernas, foi meu entrevistado há uns anos, numa altura em que poucos corriam. Despertou-me interesse aquele homem culto e desportista há muito entrado nos noventas. Porque ele corria! Sempre correu. Ainda há uma semana o vi correr.
Morreu hoje.

3 comentários:

  1. Era amigo do meu pai, das poucas memórias que tenho dele era de ser sempre afável e cheio de boa disposição... Os meus sentimentos à família...

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  2. Podes por uma foto. Pois sou de Guimarães e não sei quem o senhor.

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  3. Os grandes homens e as grandes mulheres nunca morrem.
    Apenas deixamos de os ver.

    LAC

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