24.9.14

Medo.


Numa destas manhãs, um grupo de cinco mulheres ria. Pelo menos, duas delas, gargalhavam. Divertiam-se com o medo (que uma delas) tinha (e continua a ter) em criança. Não caminhava sozinha no escuro do corredor. Nem dormia sozinha. Era assustadiça a criança. De tal modo, que foi discutido no meio familiar a hipótese de lhe dar a comer, atrás da porta, a crista de um galo.
Ora, o meu estômago já era esquisito o suficiente. Uma volta matinal de carro significava roupa vomitada antes do quilómetro 6. Uma crista de galo podia ter consequências irreversíveis no meu processo digestivo futuro.
Fui medricas. Insisti em dormir com a minha avó até à idade namoradeira. Ainda assim, lembro-me de me encolher entre os seus lençóis, já noite alta, e me aconchegar na sua pele flácida.
Depois da morte do meu pai ocupei o seu lugar na cama. Fiquei por lá mais de 1 ano.
Nunca dormi sozinha numa casa vazia. Mas, acho, sinceramente, que hoje já seria capaz.
Desafiaram-me. Disse imediatamente que sim. Que quero. Que estou aqui. Mas, assim que desliguei o telefone liguei à pessoa que ligo sempre, àquela a quem tão depressa conto problemas de obstipação como discuto política e políticas. Desliguei. E liguei outra vez. Pensei - continuo a pensar. Mas, já aceitei. Embora, só o faça oficialmente mais logo.
Esta coisa do medo que nos tolhe os horizontes é tramada. Não vou porque não dou conta. Não faço porque é tarde. Não consigo porque sou mãe... Justificações que valem tanto como ter a unha do dedo do pé encravada.
Eu vou. Desta vez, vou.


Entretanto, estive a ler a definição de medo.

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