23.9.14

Quando eu era pequenina e (não) usava o autocarro


Antes que estas imagens se percam há que falar sobre os transportes públicos espanhóis. No último ano, usei mais o autocarro no estrangeiro do que em 25 anos em Portugal.
No ensino básico fui sempre a pé para a escola. Depois, nos dois primeiros anos do 2º ciclo, o meu pai levava-me. A partir do 3º ciclo nunca mais usei os transportes. Aos 14 anos, recebi uma mota como presente e resolveram-se os meus problemas de mobilidade. Na verdade, nunca tive problemas de mobilidade. Estive sempre servida. Mas, a minha maior dor de cabeça eram os autocarros. Lembro-me de correr rua abaixo com o meu primo de mochila às costas, depois de vermos o verde do autocarro na paragem no cimo da rua. Uns motoristas paravam. Outros divirtiam-se com o nosso esforço inglório.
Às tantas, perdemos um autocarro e um senhor que vendia fruta parou perante o nosso desânimo. Ofereceu-nos boleia. E nós aceitamos. A minha mãe e a minha tia ainda hoje nos cobram a irresponsabilidade. Correu bem, mas não é para repetir, ok Kiki?
De todas as minhas aventuras nos transportes públicos houve uma traumatizante. Não esqueci o que aconteceu, nem esqueci a cara do palerma que gozou comigo. O autocarro estava cheio. E eu lá atrás, pequena, rodeada pelos demais, altos, já de cadernos na mão, sem mochila nas costas, como eu, eram alunos do liceu enquanto eu, apenas uma criança, baixa e franzina do preparatório. Era a minha paragem e eu sabia que era impossível alcançar a campainha. Pedi ao tipo do meu lado que em vez de ser bom menino e fazer uma boa acção, agachou-se e disse-me "eu também não chego". Tive de descer na próxima paragem onde mais pessos desceram.
Em Espanha usar os transportes públicos é mais ou menos como andar na montanha russa, principalmente se for de madrugada. A diferença é que nos autocarros espanhóis, as pessoas gritam e enjoam mais do que na montanha russa.

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