29.10.14

Meu pai que fazes anos.


A Carolina escreveu-te. Chorou depois de ler. Dizia assim, "não me levas pela mão à escola nem me vais buscar. Não me dizes como estou crescida e bonita. Nunca me pegaste ao colo nem ofereceste nada. Mas eu conheço-te. Pelos gestos da minha mãe, pelo que me conta e pelo que te escreve".
Tornou-se rotina, neste dia, te presentearmos. Levamos cartas e desenhos que acabam desfeitos pelo tempo. Como as flores. Como as velas que se acabam ou apagam.
O que é nosso, que guardamos no corpo ou no murmúrio do pensamento, nosso fica, para sempre. Incorruptível e perfumado. Nós dizemos e tu ouves.
Meu pai que me faltas ao Domingo à noite. Na conversa que desfiávamos entre o queijo e a marmelada.
Meu pai que me faltas nas manhãs radiofónicas. Entre as primeiras notícias e as primeiras piadas.
Meu pai que me faltas nos relatos de futebol. Nas viagens de estrada. Nas leituras. Nos desenhos. Nos sapatos limpos. Na caligrafia perfeita e na perfeição das gavetas. No pão com nozes.
Meu pai que me faltas no assobio e nos cães sem trela. Nas unhas amareladas do cigarro e no tilintar das chaves.
Meu pai, que me faltas.

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