24.12.14

Feliz Natal!


 - Nem me lembra o Natal - diz-me, repetidamente, a minha mãe. É a mesma ladainha, ano após ano.
Ensinaram-me o Natal. Entendi-o. Cumpro-o. E transmito-o. Tenho o Natal entranhado. Apesar das ausências que se somam aos anos. Da falta dos subsídios e do dinheiro que se faz menos.
Os Natais da minha infância eram feitos de embrulhos desarrumados onde cabia tudo. Das meias aos brincos de ouro. Embrulhos que acumulavam debaixo da cama ou do vão da escada.
Ao passo que crescia, crescia em mim a ansiedade. O Pai Natal virou loiro de olho azul.
É verdade que o cheiro a Natal, na manhã de 24, não voltou a ser o mesmo sem as receitas da minha avó. Faz o que pode - e sabe - a minha mãe.
A minha avó, cujas prendas ocupavam a primeira escada, recebia sempre o mesmo, em cada Natal. Pijamas, robes, meias, pantufas, camisolas interiores, capas e cachecóis.
Foram perfeitos todos os meus Natais, mesmo o último, 15 dias antes do meu pai me morrer. Cuidarei para que assim continuem.
No Natal, as tangas que se desejam, como amor e saúde, são o que realmente importa, até porque não me perco por bacalhau.

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