24.12.14

Uma espécie de presente...


Chegam de bolsos carregados. Ouvem-se as moedas que se misturam com as mãos resguardadas do frio. É noite de póker.Véspera da véspera de Natal e noite de póker. Os telemóveis estão convenientemente descarregados. A bateria permitiu apenas enviar a mensagem da harmonia, "vou ficar sem bateria....". E já era.
Rolam as fichas.
Na mesma mesa que hoje se faz de graça, ou desgraça, já se sonharam amores. Impossíveis. Como todas as boas histórias. Tão impossível como o cumprimento de Obama a Raul Castro... Espera... Mas, o Obama não cumprimentou o Castro no funeral do Mandela? Bem me parecia que sim... Queres ver que o amor sonhado não era, afinal, impossível?
 Não os separava apenas a distância do olhar. Separava-os a marca do cigarro, o tipo de música, a pronúncia, a sensação térmica da cidade e da aldeia, a quantidade de caixas multibanco e supermercados por metro quadrado.
Mas, os olhos, distantes, eram, afinal, atalho.
Na véspera da véspera de Natal continuava sem sorte no jogo. O máximo que ganhara no póker, foram 120 euros num par de horas.
Mas, agora, na mesa das desgraças que é afinal de graças, com o telemóvel ligado à ficha, falam os olhos do passado. O tanto que falam diz-se num beijo. No mais desejado e gracioso de todos. Contou-lhe, ela, que ainda o ouve dizer "beija-me". Num pedido autoritário. Objectivo. Num tom que só usa quando manda o Nani rematar.
Fez-se possível o impossível. Toca-se. E sente-se. Fuma-se. Beija-se.
Foram-se os 50 euros da consoada na mesa do póker. É véspera de Natal.


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