28.1.15

Para o meu homem.



Não sei se consigo declarar-me. Pelo menos, do modo ridículo como se têm os amantes. Não que eu não seja tantas vezes ridícula ou não ame, mas porque não sou romântica. E mais depressa digo "estás gordo" do que "és lindo". És lindo, de facto. Tão lindo que nem sei dizer se o és mais por fora, ou por dentro.
Não sei porque deixei de te escrever. Talvez, por não gostares de ler. Ou por não guardares os meus escritos. Foram tantos, eu sei, que se perderam nos quase 20 anos de travessia comum.
Não consigo evitar lembrar-me do médico cubano.
 - Ele tem alergias?
 - Não.
 - Como podes afirmar isso assim?
 - Porque o conheço.
 - Conheces? Há quanto tempo? Cinco anos? Seis? Sete?
 - Conheço de toda a minha vida. Estamos juntos há 18 anos. É suficiente para si?
Acho que deixei de te escrever desde que as nossas filhas nasceram. Talvez porque as julgo rascunho do que quero dizer. Podes ler-me nas palmas das suas mãos ou dos seus pés. Não é uma linguagem simples. Requer uma leitura atenta e uma interpretação complexa. Não são os números que somas ou subtrais de cabeça. As palavras que escrevo nelas são quase enigmas. Desculpa-me por isso. E porque distorço mensagens. Digo quase sempre o contrário do que quero dizer. Faço quase sempre o contrário do que quero fazer. Já era assim quando me conheceste. E mudaste-me. Voltei a sê-lo pelas perdas da vida. Como se um "amo-te" só fizesse sentido na morte.
Tantas vezes te digo que despertas o meu lado mau. Mas minto-te. Porque se não fosses tu, eu seria muito pior. Mais fria. Mais calculista. Mais egoista. Mais egocêntrica. Se não fosses tu, não amaria para além da carne e do sangue.
Tu não sabes, mas sem ti meia de leite não tem o mesmo gosto. Sem ti, o filme, apesar de excelente, é demasiado longo. O jantar sabe a pão duro da véspera.
Sem ti, não há sol. Não há Verão. Não há vestido novo nem passeio no parque.
Sem ti, eu não seria assim, feliz. E sem ti elas não seriam perfeitas.
Tu não sabes (sempre) mas eu amo-te.

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