22.12.16

Salvemos estas crianças, mas às tantas comecemos pelos pais...




Tenho duas filhas, uma enteada e pretendo ter outro filho, assim como escrito, no masculino. Não me assustam as minhas crianças porque confio em mim, dito assim, sem falsa modéstia. Da mesma forma que me assumo falível sem qualquer pretensão a título de melhor mãe do mundo. Não as amamentei. Já lhes dei ao jantar ovos mexidos com salsichas e juro que não faleceram. Já estivemos na praia ao meio dia. Já as deitei sem lhes secar o cabelo. Já lhes disse palavrões. Por outro lado nunca as perdi (de mim). Nunca se quiseram perder. Sabem onde pertencem. E mais do que orgulhar-me da fé da Constança no Pai Natal orgulho-me de serem felizes. Disso e de não as deixar usar gadgets à mesa ou em qualquer outro local onde brincar lhes seja permitido.
Assistimos à transição do analógico para o digital, do real para o virtual. Numa época que nunca se chamará época, que no futuro será ofuscada pela rudimentaridade retrógrada da anterior e pela tecnologia evolutiva da posterior. Nos livros de História será descrita como “período de desenvolvimentos tecnológicos” e será folheada rapidamente. Isto, se houver História. Pior, se houver livros.
Não se brinca ao macaquinho do Chinês. Os miúdos encontram consolo em consolas. Já não levam cordas de saltar para os recreios. Não sabem fazer um quantos-queres. Não mandam bilhetes amorosos e propostas de namoro. Falam online e namoram por likes. São educados por ecrãs e crescem pela internet. Faltam-lhes remendos de ganga nas calças, dos joelhos esfolados, cabelos despenteados e unhadas na cara. Sapatos rotos e pensos pelo corpo.
Eu já não sou miúda, mas também não sou exemplo. Não vivemos sem telemóvel e o que não percebemos é que não vivemos com telemóvel.
Mas, eu sou crítica em relação às redes sociais e revoltam-me aditos reféns do scroll.
Enquanto escrevo olho para a minha filha mais velha a gravar vídeos que publica numa qualquer rede da qual nem o nome sei.
Com 11 anos, a três dias do Natal, eu escrevia peças de teatro para representar na noite da consoada.
Na certeza que o acessório se tornou essencial e o essencial acessório me despeço.
E ando a suspirar mais vezes.

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