Fixem este aceno vestido Blumarine |
31.5.12
Ainda a saúde
Ontem estive três horas no público, hoje 10 minutos no privado. Não é uma questão de tempo - pelo menos que o possa quantificar em minutos. É esta espécie de perseguição que venho sentindo por gente de bata branca e crocs nos pés.
Tenho dois antibióticos pousados na mesa da cozinha; dois antiinflamatórios e um antihistaminico. Fora o amigo (ben)uron - presente todas as horas (tem tanto tempo de voo como eu) e os faixas negra do arsenal.
Um serão nas urgências públicas é - indiscutivelmente - mais divertido. Se eu estivesse à procura de um companheiro ia às urgências. Seria perfeito. Podia simular um mal estar, desmaiar-lhe nos braços e até pedir que me acompanhe à casa de banho...
Claro que corremos o risco - elevado - de encontrar um bêbedo descalço que ainda nos vomite em cima. Ou um idoso que de cada vez que tosse deixe claro que sofre de flatulência, mas, quiçá não encontrem a cara metade entre uma garrafa de soro e uma colheita de sangue.
De repente lembrei-me da senhora que gritava "sou um ser humano" e que fez questão de manifestar a sua revolta com um dos médicos de serviço. "Eu cheguei primeiro do que aquele e aquela e a senhora das bolinhas", barafustava enquanto os apontava.
O médico, só abria os braços.
"Expulsaram o meu marido e aquela tem um autocolante". Nesta parte alguém assobiou para o ar.
E o médico sorria e abria os braços.
Na cabeça daquela senhora não estava nas urgências do hospital, estava na fila do talho do Intermarché que funciona por ordem de chegada. Para aquela senhora, as pulseiras não têm cor. E os gases dela têm a mesma importância que uma tromboembolia.
Tenho dois antibióticos pousados na mesa da cozinha; dois antiinflamatórios e um antihistaminico. Fora o amigo (ben)uron - presente todas as horas (tem tanto tempo de voo como eu) e os faixas negra do arsenal.
Um serão nas urgências públicas é - indiscutivelmente - mais divertido. Se eu estivesse à procura de um companheiro ia às urgências. Seria perfeito. Podia simular um mal estar, desmaiar-lhe nos braços e até pedir que me acompanhe à casa de banho...
Claro que corremos o risco - elevado - de encontrar um bêbedo descalço que ainda nos vomite em cima. Ou um idoso que de cada vez que tosse deixe claro que sofre de flatulência, mas, quiçá não encontrem a cara metade entre uma garrafa de soro e uma colheita de sangue.
De repente lembrei-me da senhora que gritava "sou um ser humano" e que fez questão de manifestar a sua revolta com um dos médicos de serviço. "Eu cheguei primeiro do que aquele e aquela e a senhora das bolinhas", barafustava enquanto os apontava.
O médico, só abria os braços.
"Expulsaram o meu marido e aquela tem um autocolante". Nesta parte alguém assobiou para o ar.
E o médico sorria e abria os braços.
Na cabeça daquela senhora não estava nas urgências do hospital, estava na fila do talho do Intermarché que funciona por ordem de chegada. Para aquela senhora, as pulseiras não têm cor. E os gases dela têm a mesma importância que uma tromboembolia.
Notícias
Às vezes (muitas vezes) em Guimarães não há notícias. Notícias que valham a pena e mereçam ser destacadas.
Os jornais regionais alimentam-se essencialmente com as reuniões camarárias que consomem muitos caracteres e ocupam muitas páginas. São as politiquíces.
É por isso que eu sou pela reportagem. Pela investigação. Pelas histórias. Que vendem- e são lidas - mais do que o murro na mesa do Magalhães em resposta ao membro da oposição enquanto votavam uma proposta de iluminação pública.
Asnão notícias que chegam como press- release, por fax (sim, ainda) e por email, muitas vezes abrem noticiários. Num torneio de chincalhão põe-se o organizador a falar. Na procissão das velas, ouve-se o padre. Não porque sejamos jornalistas rigorosos. Mas, por pura e descarada preguiça. É tão fácil pegar no telefone sem sair da secretária e gravar uma declaração. E tão frustrante, também.
Quando há acusações mútuas e trocas de palavras, claro que tenho o cuidado de ouvir as partes envolvidas. Caso contrário, as minhas histórias têm apenas um protagonista. Ainda mais quando me contacta. Se comprovo a pertinência de uma reportagem tenho de acreditar no que me diz se o seu discurso se encaixa no que vejo.
Eu costumo dizer que a verdade é apenas uma. As versões serão incontáveis.
E agora lá vou eu à procura dela.
Os jornais regionais alimentam-se essencialmente com as reuniões camarárias que consomem muitos caracteres e ocupam muitas páginas. São as politiquíces.
É por isso que eu sou pela reportagem. Pela investigação. Pelas histórias. Que vendem- e são lidas - mais do que o murro na mesa do Magalhães em resposta ao membro da oposição enquanto votavam uma proposta de iluminação pública.
As
Quando há acusações mútuas e trocas de palavras, claro que tenho o cuidado de ouvir as partes envolvidas. Caso contrário, as minhas histórias têm apenas um protagonista. Ainda mais quando me contacta. Se comprovo a pertinência de uma reportagem tenho de acreditar no que me diz se o seu discurso se encaixa no que vejo.
Eu costumo dizer que a verdade é apenas uma. As versões serão incontáveis.
E agora lá vou eu à procura dela.
Ora então a minha noite
Andava há dia e meio a queixar-se do pé. Até aqui, nada de anormal..."ai que não aguento as minhas costas. Deve ser do colchão, também acordas assim?". Desculpa lá, a cama é nova! "Pois, realmente não faz sentido, deve ser de pegar nas meninas". Oi? Agora estás a tentar ter graça. "E esta micose na unha do dedo grande? Continuas a achar que esta morta? Que não tem salvação?". Queres mesmo saber o que acho?
Ontem, quando chegou, perguntei-lhe se ia treinar. Resposta imediata e com cara de não-venhas-com-tangas-para-cima-de-mim: "claro que vou".
Ora mostra lá o teu pé...melhorou?
Não só não melhorou, como piorou com uma rapidez assustadora.
Proíbo-te de ires treinar. E mais, vais ao médico. Já vi muito boa gente começar assim com uma infecção e acabar com uma amputação. Até já te estou a ver perneta. O que tinha as suas vantagens. Tipo, passávamos a ter desconto na compra dos carros; deixavas de jogar futebol, e depois de processarmos o mosquito que te fez essa maldade ainda éramos indemnizados...
A sua expressão foi mudando. E de "isto não é nada", ligou o modo dramático. "Ai que não me estou a sentir bem... Tenho febre, de certeza. Não aguento de dores..."
Após um telefonema para os fixes da Saúde 24, recomendaram que devia ser visto nas próximas 4 horas.
Lá fomos ao CHAA.
Na triagem:
- então o que o traz por cá?
- Não sei... o meu pé está assim - e ergueu-o para que o enfermeiro o visse.
- deu alguma pancada?
- inicialmente pensei que sim... mas (pausa) não dei...
Colocou-lhe a pulseira amarela, encaminhou-o para a sala número 5 e proibiu-me de entrar.
- Desculpe? Eu vou acompanhá-lo.
- Não vai não, a senhora vai esperar na sala de espera. Se for necessária a sua presença chamam.
Pois com certeza que segui a direcção da sala número 5 e não da sala de espera.
A sala dos cadeirões. Com poucos doentes, maioritariamente mulheres.
A senhora da camisa de bolinhas olhava-nos e perguntou-me meia dúzia de vezes se estava à sua espera. Outras tantas, levantou-se para ir embora. Estava sozinha. Sem familiares. Ninguém se acusou quando os chamaram na sala de espera. Enfiaram-lhe uma sonda e passou para a sala das macas.
Outra senhora simulava um AVC. Entre lágrimas, gritava que não sentia o braço esquerdo. Arrastou-se pelo cadeirão e o chão amparou-a. A enfermeira mordiscou-lhe o braço e ela gritou, "está-me a magoar senhora doutora". Pois então, sente ou não sente?
Outra senhora obesa tinha como principal queixa os suores.
E outra com ar de tudo menos de doente ria que nem uma louca. Parecia estar divertida com o seu serão nas urgências.
- A senhora está-se a rir? Olhe que não é para rir. É grave o que tem - avisou uma jovem médica.
A TAC ao cérebro mostrou alterações. Seguiu para internamento.
- Menina, tem que sair. Já passei muitas vezes e evitei chamá-la à atenção, mas a menina abusa e agora vai ter mesmo que sair.
- Não saio.
- Menina, não quer que a leve por um braço, pois não?
- Não se atreveria, com certeza. E estou tentada a encarar isso como uma ameaça, como tal encaminhe-me ao chefe de serviço.
Entretanto, já tinha no meu iphone o que prevê a legislação portuguesa no caso de acompanhamento de doentes em serviços de urgência (o que seria de mim sem o meu smartphone?).
- nesse caso, a menina vai à sala 11 e entende-se lá com o Dr. Carlos Alpoim.
- terei todo o gosto em tomar a vez de um doente e discutir legislação com o senhor.
O médico mandou o enfermeiro chefe "aturar-me".
- Faz favor...
- Insisto em acompanhar o meu marido.
- Pode levar-me até ele.
- Claro... aqui está... extremamente nervoso, baralhado e agonizar com dores.
Desde 2009 que a AR aprovou um diploma proposto pelo BE que prevê o acompanhamento de um doente por parte de uma pessoa da sua confiança. E ainda que cada hospital tenha sido autorizado a adaptar-se a essa alteração, não vejo como a minha presença pode ser prejudicial ou esteja a comprometer os cuidados médicos de outros doentes. E acho que estamos todos pela humanização dos serviços de saúde. Aquele idoso, por exemplo, está sozinho, expulsaram o filho e ainda há pouco um auxiliar levou-o à casa de banho e adivinhe o que aconteceu? Esqueceu-se lá do senhor que por sua vez caiu!!! E os seus gritos aflitos chegaram aqui. Sabe o que disse o auxiliar? Que tem mais coisas para fazer. Ou seja, se o senhor caiu, agora resta levantá-lo. Se o filho aqui estivesse isso não teria acontecido.
- O seu marido não é idoso. É jovem, parece-me bem, capaz e não precisa de si aqui.
- Ora então pergunte-lhe se a minha presença é dispensável...
O enfermeiro sorriu...
- Vai ser identificada e pode ficar.
Talvez o meu decote tenha tido alguma utilidade, mas arrumei com ele com a minha argumentação.
O homem levou umas injecções.
E eis o que o Zyrtec pode fazer a alguém que nunca tomou mais que um benurón
É claro que podia contar do senhor que chegou atrapalhado com uma alergia ou da senhora que gritava "também sou um ser humano" - ninguém duvida disso, minha senhora, para ser extra-terrestre faltam-lhe algumas características, tais como, ser verde, por exemplo, umas antenas na cabeça, quiçá duas bocas, tentáculos em vez de braços. E olhe que não seria mau de todo porque talvez assim lhe dessem alguma atenção.
Ontem, quando chegou, perguntei-lhe se ia treinar. Resposta imediata e com cara de não-venhas-com-tangas-para-cima-de-mim: "claro que vou".
Ora mostra lá o teu pé...melhorou?
Não só não melhorou, como piorou com uma rapidez assustadora.
Proíbo-te de ires treinar. E mais, vais ao médico. Já vi muito boa gente começar assim com uma infecção e acabar com uma amputação. Até já te estou a ver perneta. O que tinha as suas vantagens. Tipo, passávamos a ter desconto na compra dos carros; deixavas de jogar futebol, e depois de processarmos o mosquito que te fez essa maldade ainda éramos indemnizados...
A sua expressão foi mudando. E de "isto não é nada", ligou o modo dramático. "Ai que não me estou a sentir bem... Tenho febre, de certeza. Não aguento de dores..."
Após um telefonema para os fixes da Saúde 24, recomendaram que devia ser visto nas próximas 4 horas.
Lá fomos ao CHAA.
Na triagem:
- então o que o traz por cá?
- Não sei... o meu pé está assim - e ergueu-o para que o enfermeiro o visse.
- deu alguma pancada?
- inicialmente pensei que sim... mas (pausa) não dei...
Colocou-lhe a pulseira amarela, encaminhou-o para a sala número 5 e proibiu-me de entrar.
- Desculpe? Eu vou acompanhá-lo.
- Não vai não, a senhora vai esperar na sala de espera. Se for necessária a sua presença chamam.
Pois com certeza que segui a direcção da sala número 5 e não da sala de espera.
A sala dos cadeirões. Com poucos doentes, maioritariamente mulheres.
A senhora da camisa de bolinhas olhava-nos e perguntou-me meia dúzia de vezes se estava à sua espera. Outras tantas, levantou-se para ir embora. Estava sozinha. Sem familiares. Ninguém se acusou quando os chamaram na sala de espera. Enfiaram-lhe uma sonda e passou para a sala das macas.
Outra senhora simulava um AVC. Entre lágrimas, gritava que não sentia o braço esquerdo. Arrastou-se pelo cadeirão e o chão amparou-a. A enfermeira mordiscou-lhe o braço e ela gritou, "está-me a magoar senhora doutora". Pois então, sente ou não sente?
Outra senhora obesa tinha como principal queixa os suores.
E outra com ar de tudo menos de doente ria que nem uma louca. Parecia estar divertida com o seu serão nas urgências.
- A senhora está-se a rir? Olhe que não é para rir. É grave o que tem - avisou uma jovem médica.
A TAC ao cérebro mostrou alterações. Seguiu para internamento.
- Menina, tem que sair. Já passei muitas vezes e evitei chamá-la à atenção, mas a menina abusa e agora vai ter mesmo que sair.
- Não saio.
- Menina, não quer que a leve por um braço, pois não?
- Não se atreveria, com certeza. E estou tentada a encarar isso como uma ameaça, como tal encaminhe-me ao chefe de serviço.
Entretanto, já tinha no meu iphone o que prevê a legislação portuguesa no caso de acompanhamento de doentes em serviços de urgência (o que seria de mim sem o meu smartphone?).
- nesse caso, a menina vai à sala 11 e entende-se lá com o Dr. Carlos Alpoim.
- terei todo o gosto em tomar a vez de um doente e discutir legislação com o senhor.
O médico mandou o enfermeiro chefe "aturar-me".
- Faz favor...
- Insisto em acompanhar o meu marido.
- Pode levar-me até ele.
- Claro... aqui está... extremamente nervoso, baralhado e agonizar com dores.
Desde 2009 que a AR aprovou um diploma proposto pelo BE que prevê o acompanhamento de um doente por parte de uma pessoa da sua confiança. E ainda que cada hospital tenha sido autorizado a adaptar-se a essa alteração, não vejo como a minha presença pode ser prejudicial ou esteja a comprometer os cuidados médicos de outros doentes. E acho que estamos todos pela humanização dos serviços de saúde. Aquele idoso, por exemplo, está sozinho, expulsaram o filho e ainda há pouco um auxiliar levou-o à casa de banho e adivinhe o que aconteceu? Esqueceu-se lá do senhor que por sua vez caiu!!! E os seus gritos aflitos chegaram aqui. Sabe o que disse o auxiliar? Que tem mais coisas para fazer. Ou seja, se o senhor caiu, agora resta levantá-lo. Se o filho aqui estivesse isso não teria acontecido.
- O seu marido não é idoso. É jovem, parece-me bem, capaz e não precisa de si aqui.
- Ora então pergunte-lhe se a minha presença é dispensável...
O enfermeiro sorriu...
- Vai ser identificada e pode ficar.
Talvez o meu decote tenha tido alguma utilidade, mas arrumei com ele com a minha argumentação.
O homem levou umas injecções.
E eis o que o Zyrtec pode fazer a alguém que nunca tomou mais que um benurón
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É claro que podia contar do senhor que chegou atrapalhado com uma alergia ou da senhora que gritava "também sou um ser humano" - ninguém duvida disso, minha senhora, para ser extra-terrestre faltam-lhe algumas características, tais como, ser verde, por exemplo, umas antenas na cabeça, quiçá duas bocas, tentáculos em vez de braços. E olhe que não seria mau de todo porque talvez assim lhe dessem alguma atenção.
30.5.12
Nas bancas
Já conhecia esta família. Foi a esta casa que voltei, um ano depois da morte do pai e do marido.
As paredes estão pintadas de novo. Há um LCD na sala. O Zé Carlos tem um novo computador e um novo telemóvel, mas deixou de ir à escola.
No antepenúltimo ano de terminar o secundário deixou-se ficar por casa, ia o segundo período a meio.
Desculpa-se que não tem botas. A mãe está com ele.
Esta é a notícia que faz manchete nesta edição.
Este jovem de 16 anos que padece de nanismo diastrófico abandonou a escola. A mãe é incapaz de resolver o problema, seja ele pela falta das botas ou por preguiça - como há quem acuse.
Independentemente da motivação, este aluno tem que ser resgatado. E esse é o propósito da reportagem. Fazê-lo voltar.
29.5.12
Coincidência
Hoje dei um "puxão de orelhas" a alguém.
E de repente, lembrei-me do filme que vi ontem... O senhor que dá uma passa no cigarro é tetraplégico. Todo o corpo abaixo do pescoço está morto. As orelhas não. E é através delas que se satisfaz sexualmente. Curioso.
Virar a página
Perdemo-nos na conversa. Ontem, enquanto trocávamos as tão comentadas e dúbias SMS. Hoje, ao pequeno almoço. E de tarde, com mais mensagens.
À mesa do café, passamos de homens para política.
Horas depois, disse-me - decidida - que tinha virado a página. E sustentou a convicção com atitudes.
Respondi-lhe que me parecia bem...se já tinha lido tudo.
Não entendeu. Desculpou-se com as 5 horas às voltas com material didáctico.
Eu também viraria a página. Ou até trocasse de livro, depois de entregar o anterior à Constança que o encheria de rabiscos, para jamais lembrar aquela lição. Mas antes, seria bruta de tão directa.
Eu sei, essa sou eu, não és tu.
Formiguinha
Ontem com a sétima arte - em francês - hoje em modo formiguinha.
Vou dar aos dedos porque tenho um texto para enviar nos próximos 60 minutos.
Vou dar aos dedos porque tenho um texto para enviar nos próximos 60 minutos.
28.5.12
Regressos
Hoje voltei a uma casa onde já estive.
Foi há um ano. Era uma casa enlutada. O homem tinha acabado de falecer do coração depois de se atirar de uma ponte. E só tinha saído para comprar cigarros na BP.
Não era um bom pai nem bom marido. Batia na mulher. E ainda assim ela vestia preto, dos pés à cabeça e beijava-lhe o rosto no papel da funerária que anunciava a missa de sétimo dia.
O salto para a morte desse homem resultou numa nova vida para a mulher e o filho. Resolveu problemas graves - com a ajuda de outros, é certo - pintou a casa e comprou LCD. Ela que na altura desconhecia que teria direito a metade da reforma do homem que tantas vezes lhe valeu visitas nocturnas ao hospital para suturar os golpes na cabeça e no rosto.
Mas, hoje voltei lá. E o motivo - ainda que discutível - não é o melhor.
Foi há um ano. Era uma casa enlutada. O homem tinha acabado de falecer do coração depois de se atirar de uma ponte. E só tinha saído para comprar cigarros na BP.
Não era um bom pai nem bom marido. Batia na mulher. E ainda assim ela vestia preto, dos pés à cabeça e beijava-lhe o rosto no papel da funerária que anunciava a missa de sétimo dia.
O salto para a morte desse homem resultou numa nova vida para a mulher e o filho. Resolveu problemas graves - com a ajuda de outros, é certo - pintou a casa e comprou LCD. Ela que na altura desconhecia que teria direito a metade da reforma do homem que tantas vezes lhe valeu visitas nocturnas ao hospital para suturar os golpes na cabeça e no rosto.
Mas, hoje voltei lá. E o motivo - ainda que discutível - não é o melhor.
Biblioteca
Há uma na sala da Constança.
Cada bebé tem o seu saco, personalizado, e cada segunda e sexta traz um novo livro para explorar com os pais. A educadora seleccionou uns quantos, entre os 5 e os 10 euros, e sugeriu um título a cada pai.
Hoje começámos a biblioteca itinerante. E este foi o primeiro livro que trouxemos.
Folga
Saí de casa, com a pasta pendurada no ombro. Tenho que escrever e pensei que o faria melhor fora de casa. Com sol e vidro quente.
Ainda despachei uns emails e agendei umas fotos para o final da tarde de hoje, mas na hora de dar aos dedos, enviei um SMS, cuja resposta - a ser positiva - me faria guardar o PC. Voltou à pasta - até amanhã de manhã.
Esta tarde permito-me a folgar.
Vou ver este filme
Ainda despachei uns emails e agendei umas fotos para o final da tarde de hoje, mas na hora de dar aos dedos, enviei um SMS, cuja resposta - a ser positiva - me faria guardar o PC. Voltou à pasta - até amanhã de manhã.
Esta tarde permito-me a folgar.
Vou ver este filme
27.5.12
Adenda
O responsável pela pintura rupestre no meu top novo foi ele
Transportava a pintura da Carolina como quem transporta um malmequer.
Seguia atrás de mim e bastou eu parar por 1 segundo para segurar a Constança no tapete rolante para me colar o desenho às costas.
Num primeiro momento ainda pensei que se estivesse só a meter comigo, mas a Carolina fez questão de manifestar todo o seu espanto - e pena...
- Hey!!! Nem olhes mãe, não vais gostar. Está toda a gente a olhar para ti. Que horror!!! O top não era novo?!
Transportava a pintura da Carolina como quem transporta um malmequer.
Seguia atrás de mim e bastou eu parar por 1 segundo para segurar a Constança no tapete rolante para me colar o desenho às costas.
Num primeiro momento ainda pensei que se estivesse só a meter comigo, mas a Carolina fez questão de manifestar todo o seu espanto - e pena...
- Hey!!! Nem olhes mãe, não vais gostar. Está toda a gente a olhar para ti. Que horror!!! O top não era novo?!
Ídolos
Este miúdo- o primeiro a cantar - é giro que se farta.
A Cláudia Vieira está com um cabelo de fazer inveja (pelo menos a mim) e o vestido é simples (demasiado simples...gostava de a ver mais arrojada), mas giro. Só acho que a pseudo-capa das costas era completamente dispensável.
A Cláudia Vieira está com um cabelo de fazer inveja (pelo menos a mim) e o vestido é simples (demasiado simples...gostava de a ver mais arrojada), mas giro. Só acho que a pseudo-capa das costas era completamente dispensável.
Domingo de manhã
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em passeio pelo shopping notar, por favor as costas do meu top, rendado e limpo!!! |
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a pintura da Carolina com o sopro da palhinha |
![]() |
o livro da Constança para a biblioteca da sua sala |
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apesar de estar de frente, insisto para a limpeza do meu top que por acaso vesti hoje pela primeira vez |
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e depois acontece-me isto... |
Opções
A Constança não é chegada a essa tipo de manifestações.
E na noite de ontem, enquanto a irmã, cantava o avé no meio da multidão de fiéis, a Constança reclamava, "cala pade, cala pade. Emboia Jusus, emboia".
Juro que não tenho qualquer influência na sua resistência ao catolicismo. Ela frequenta um colégio assumidamente católico; já foi a duas missas - o que perfaz a média de uma por ano - e leva com a irmã a cantar à noite o "vinde sem demora..."
Não sei do que estás a falar
Quando chegamos ao mercado - ou pelo menos quando cheguei ao mercado - uma das dicas de uma colega mais velha foi "pergunta tudo, mesmo as coisas que aches que te podem envergonhar ou as mais ridículas".
Há 11 anos atrás, acenei-lhe que sim, que o faria. E agradeci. Mas, a verdade é que ficava calada. Perguntava mais tarde, pesquisava na redacção...
Depois entendi como aquela dica é tão importante. Perguntar tudo!!! Faz toda a diferença. Nem que estejas perante o PM e levantes o braço para questionar "qual é o seu primeiro nome?".
Esta deixa passou a acompanhar-me. Na profissão. E na vida.
Corro o risco de ser inconveniente (já perdi a conta às vezes que o fui), mas permite-me o acesso à informação que naquele momento me falta.
Não há palavras proibidas. Ou abordagens menos felizes. Desde que o respeite...se respeite... fales com o padre, com o PM ou com o médico de família.
E entre falar e calar eu prefiro a primeira.
Embora, frequente os treinos do assobiar para o ar e quando quiseres perguntar eu não saberei do que falas.
25.5.12
Não resisto
Quando um serão de cinema ainda era uma possibilidade, perguntava-me em voz alta que filme escolheria.
- Talvez o J. Edgar ou o Intouchubles...
Quando, do alto da sua sapiência e vasta experiência em ogres verdes que divertem miúdos e nem tanto, pequena Constança me sugere:
- O Shé 1, mãe!
- Talvez o J. Edgar ou o Intouchubles...
Quando, do alto da sua sapiência e vasta experiência em ogres verdes que divertem miúdos e nem tanto, pequena Constança me sugere:
- O Shé 1, mãe!
Morte antecipada
Ontem, na universidade reparei na bandeira a meia haste.
Com algum esforço o segurança lá a conseguiu colocar, no local devido. Perguntei-lhe a razão. Uma das alunas vitimadas pelo carro desgovernado no final de uma das noites do Enterro da Gata, falecera.
Fiquei consternada. Lamentei, mas não me alonguei em fatalismos.
Movi imediatamente uns contactos para apurar qual das duas, se a de Guimarães, se a de Famalicão...
Esta manhã, quando cheguei à UM, já não havia bandeira na haste. Bolas, como esta gente é rápida no luto.
Ao passar pelo segurança não resisti a questioná-lo.
- Afinal ainda não foi - deixou-me estas palavras. Como que a lamentar o trabalho que a bandeira lhe deu ontem e provavelmente voltaria a dar... hoje ou nos dias seguintes.
A verdade é que durante o dia os serviços receberam a confirmação oficial do óbito da aluna de Famalicão.
E a bandeira voltou à meia haste.
Com algum esforço o segurança lá a conseguiu colocar, no local devido. Perguntei-lhe a razão. Uma das alunas vitimadas pelo carro desgovernado no final de uma das noites do Enterro da Gata, falecera.
Fiquei consternada. Lamentei, mas não me alonguei em fatalismos.
Movi imediatamente uns contactos para apurar qual das duas, se a de Guimarães, se a de Famalicão...
Esta manhã, quando cheguei à UM, já não havia bandeira na haste. Bolas, como esta gente é rápida no luto.
Ao passar pelo segurança não resisti a questioná-lo.
- Afinal ainda não foi - deixou-me estas palavras. Como que a lamentar o trabalho que a bandeira lhe deu ontem e provavelmente voltaria a dar... hoje ou nos dias seguintes.
A verdade é que durante o dia os serviços receberam a confirmação oficial do óbito da aluna de Famalicão.
E a bandeira voltou à meia haste.
De noite
A Carolina continua devota de Fátima e ainda não perdeu um terço desde que Maio começou.
Os serões cá em casa são mais silenciosos. São menos os conflitos para gerir.
Esta noite até podia ver um filme, mas estou demasiado cansada. E espero adormecer sem que a atenção me prenda... Sem Internacionalizações
Foi o tema de conversa ao pequeno almoço.
Diz ela que a sua única internacionalização está a chegar. E nestas coisas, em termos quantitativos reconheço que não te supero. E se considerarmos a geografia, ganhas tu. Estreaste-te na América do Sul. Eu fiquei-me pela Europa.
Agora, não há dúvidas que a minha tem mais mérito do que a tua. Uma coisa é um "ahhhh" em português com sotaque, outra é um "ahhhh" em grego...
Nothing to report
Eis-me de volta, depois de um dia praticamente passado ao telemóvel. Tentava resolver uma (falsa) questão e estive a um xanax de matar os funcionários da TMN- tipo uma dezena com quem falei.
Valeu-me a Constança que na loja atacou o fulano com dois balões.
E os dias continuam assim, dilemas. Não sei se fale. Não sei se cale. É como chover no molhado. Irrita-me, pá. E nem o meu iphonezinho novo (branco, desta vez) me aquece o coração.
24.5.12
A intenção é mostrar os sapatos
Qualquer semelhança com a realidade não é pura coincidência
Saímos só as duas e parecíamos tantas no interior da BMW cinza.
Não me lembro o que vestias, mas sei de cor o preto do meu vestido. Curto. Decotado. Com um corpete dourado. O cabelo - ainda longo - risco ao meio e apanhado, estilo deusa grega.
Paramos na BP para comprar slims. Sabor a menta. E enfiámo-nos na A3. Destino: Póvoa de Varzim.
Era uma qualquer noite de Maio. Quente. E quentes éramos duas mulheres, lindas e descomprometidas.
Tínhamos encontro marcado e nem sabíamos bem com quem. Não que importasse…
Estacionámos a carrinha ao pé do Farol. E deixámo-nos estar. A rir e a fumar. Depois de vermos o acidente no semáforo.
Eu tive que ir. Deixar-te à espera da tua companhia - um qualquer engenheiro não sei de quê, do interior, que te postava cenas já não sei onde.
Não queria deixar-te ali. Só. Acompanhada do mar...
E o monovolume em segunda fila continuava parado.
Olhei o homem com pior ar que deambulava na rua. Chamei-o. Ofereci-lhe 1 euro ou dois - não me lembro - e pedi-lhe que te fizesse companhia... até a companhia chegar.
Aquele homem, arrumador de carros por vocação, deu-te lume, cigarro após cigarro. E não arredou pé, conforme, combinei com ele.
A caminho de casa, trouxemos connosco a história mais insólita de todas as que temos. Contaste-me o que ele te contou. Falou-te do mar e dos seus mitos. Das crenças dos poveiros. Da sua dependência em drogas. Tu, no interior da BM cinza, com o vidro aberto. E ele fiel à função pela qual tinha sido pago. Acompanhar-te.
23.5.12
Unhas dos chineses
Comecei a colocar gel nas unhas quando a Carolina nasceu.
Na ocasião, fazia as reuniões do executivo municipal e passava muitos minutos de braço esticado a segurar no gravador. Enquanto eles (os políticos) falavam e nós nem sempre ouvíamos, olhava as unhas das colegas. Umas roídas, outras por pintar e pensei que ao menos eu teria umas unhas de fazer inveja.
Há sete anos atrás só a Multinails colocava unhas de gel.
Paguei 75 euros e andei anos a despender cerca de 40 euros por mês pela manutenção.
Fiquei fã do gel. Mas esta semana, com as unhas a meter dó e sem tempo para a manutenção, o que fiz eu? Arrisquei.
Como fui a uma loja de chineses comprar aqueles foguetes de confetis para a festa da Carolina, reparei num saquinho de plástico cheio de unhas postiças. Custava 90 cêntimos. Hum… porque não?
Saí de lá com os confetis e com as unhas.
E não é que gostei deste falso gel!
Report
Hoje foi dia de pagar contas e despachar trabalho. Duas já estão. Falta uma terceira e mais trabalhosa.
Entretanto, continuo sem ir à lavandaria e sem ir buscar a roupa que levei para passar.
Tenho filmes em lista de espera para ver e continuo sem tempo na agenda para os encaixar - e depois ainda levo com esta a pedir este e mais aquele...
O Saramago continua na cabeceira. Já não lhe toco quase há uma semana.
Também não posso descuidar o meu bronze. Um dia acordo e estou outra vez mais branca do que a cal.
A Constança tem um totó no cabelo há aproximadamente dois minutos!!!
E a Carolina soletra a cópia ao meu lado enquanto come bolacha Maria com manteiga.
Senhora dona Pipa continua a ser o cão (cadela) mais caseiro que alguma vez conheci e asseguro-vos que sempre tive uma relação estreita com canídeos. Enquanto os outros corriam desaforados quando uma porta se abria, esta esconde-se como se o mundo lá fora não lhe interessasse. E mesmo no jardim, com vasto relvado para correr e urinar, com nenucos para roer encosta-se ao vidro com cara de não-vos-vou-perdoar-por-isto.
Mudanças
Isto do cabelo tem um nome: carência.
Estou naquela fase que atingi o limite. Preciso de mudar alguma coisa. E sobra para o cabelo. Que apesar de tudo é o objecto cuja mudança tem menos consequências.
Podia mudar de carro, mas não tenho dinheiro.
Hoje, por acaso, ia mudar de telefone - o que espero fazer amanhã - mas, o fulano, pouco eficiente, pediu-me que aguardasse pelo contacto do apoio ao cliente e voltasse amanhã.
Já mudava de mamas, também. Quanto mais emagreço, mais discretas ficam. Percebi isso hoje - e não fui a única.
E trocava também as unhas dos pés. São feias.
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