14.6.11

Ele há cada coisa



Morre-se muito e morre-se todos os dias. Pode morrer-se de nada ou como se nada fosse. Morre-se a horas impróprias, em noites de consoada, nos aniversários da família. Morre-se num dia qualquer, com o último suspiro encaixado numa rotina vulgar. Morre-se sem prognóstico nem diagnóstico. Morre-se com relatórios ilegíveis e cansativos. Morre-se por defeito ou por excesso. Morre-se de tudo, de todas as partes do corpo, de todos os estados de alma. Morre-se na cama, no carro, no trono, na sarjeta. Não se morre injustamente, nem precocemente, nem violentamente, nem serenamente. Não se morre depressa nem devagar. Morre-se num único instante. Morre-se invariavelmente. Morre-se porque não se tem alternativa.

Morre-se exactamente no mesmo dia em que se nasceu, 12 anos antes, atropelado por um camião.

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