15.7.11

5 anos




Mesmo que não sejas o príncipe que me salva da torre onde a bruxa me deixou em clausura e mesmo que eu não seja essa princesa do teu conto de fadas...Espera lá, deixa-me reflectir sobre isto...Vamos reformular. Nunca sonhei com príncipes! Nunca ambicionei ser princesa. Não sei sair dos carros de pernas suficientemente fechadas para que não se vejam as calcinhas, nem teria jeito para as vênias à rainha. Faria as capas dos tablóides pelo dedo do meio esticado. Também não sou apreciadora da gata borralheira, da pobre e desamparada, sem mãe, deixada aos cuidados da madrasta e das malvadas das filhas. Naaaaa. Dava cabo delas em dois tempos. E não lhes roubava só o príncipe Usava a vassoura para outra coisa alem de lhes varrer o chão.
Adiante, sempre pensei que fosse gostar de loiros, de olhos claros, mas tu és moreno.  Não esperava começar a namorar tão cedo e prolongar essa relação até aos dias de hoje. Não contava com nada disto. E agora, as más línguas dizem que sou uma fresca, que já estivemos separados e tudo. E muito tempo, por sinal. Comentam que tivemos outras relações. E que não conta para nada termos começado a namorar com 14 anos e que hoje, 15 anos depois, mantenha a minha luta para que feches as gavetas do quarto. Para que dês de comer às cadelas ou tires o defunto do peixe do aquário. É verdade que também insisto para que olhes com atenção antes de vestir a Costancinha, já foram muitas as vezes que a vestiste do avesso e ainda mais grave, lhe calçaste os sapatos trocados.
Mas, vamos esquecer a parte em que fugi dois meses com o jardineiro que nos deu cabo da relva do jardim ou quando desapareceste aquele fim de semana com a funcionaria do Intermarché que te deu um bilhetinho junto com o troco. Ah, lembrei-me agora da miúda dos censos...nunca explicaste muito bem o que é que ela estava a fazer dentro de casa, naquela terça feira em que cheguei mais cedo. Não, desculpa, não argumentes com o carteiro porque sabes que o senhor gosta só de me gabar as pernas.
15 anos é mais de metade da minha vida (não, ainda não entrei nos 30) e pergunto-me como é que continuas a fazer parte dela? Deves ter algo de especial... algo que às vezes é claro e outras tantas não consigo descortinar. És desarrumado, calão, às vezes, preguiçoso, não penduras a porcaria do mosquiteiro que voltou a cair, não manténs a água da piscina limpa. Oh pá nem sequer trocas lâmpadas. O que nos prende? O que me prende a ti? Serão os braços e os abraços em que me sinto segura embora diga que não? Os beijos teimosos, a mão atrevida e inquieta? As francesinhas com bifes de 25 euros o quilo? O colo alto que dás às minhas filhas para as protegeres das cadelas ou dos foguetes? Será o ombro? Aquele ombro em que chorei em todas as despedidas?
Não sei... às vezes penso que pode ser isso o amor...aquele sentimento que julgam estar no coração. Eu sei que não está. Está em todo o lado. Resiste ao tempo. Às separações. Às lágrimas (nossa, já foram tantas). Aos quilos a mais e às barrigas carregadas de vida. Resiste ao sexo (ou à falta dele) porque a bebé está a chorar. Aos sapatos ao contrario. À mesa que nem sempre se põe. Ou à tampa da sanita que quase nunca baixas. Resiste ao tempo. Ao jardineiro e à menina do Intermarché...Se isso não é amor...não sei dizê-lo de outra maneira.


Parabéns pelos 5 anos de casamento

2 comentários:

  1. Revejo-me nesta descrição. A diferença - que não é assim tão pequena - é que já lá vão 14 anos, depois daquela tarde de um Julho bastante quente....."Vive l'amour"... (logo que eu que detesto a lingua francesa)

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  2. PARABÉNS ao casal!!!
    Oh, pá... tantos anos... o tempo passa!!!

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