27.11.12

Carolina



Sempre fui boa aluna. Modéstia à parte, estive sempre no grupo dos melhores.
Não era muito estudiosa, mas sempre fui relativamente inteligente e atenta o suficiente nas aulas para as notas serem boas no final dos períodos.
Também era uma criança educada, bem comportada e disciplinada que nunca sentiu dificuldades em acatar ordens. Ora, a minha Carolina é tudo isto. A professora acabou de confirmar na reunião que tivemos há instantes.
Além disso, a Carolina é excelente na Matemática.
O seu calcanhar de Aquiles é a ortografia. São os erros, gente! A rapariga distrai-se enquanto escreve. Não coloca acentos, às tantas junta ou separa palavras e mais uns quantos atentados.
A professora não valorizou em demasia e sugeriu que continuássemos as duas atentas.
Ou seja, foi uma conversa sem surpresas.
Conheço a minha filha melhor que ninguém.
Educo-a em casa e investi na educação dela num dos melhores colégios de Guimarães.
Nunca a Carolina teve um "recado" na caderneta. Não houve ninguém que se queixasse de vocabulário impróprio ou má educação.
Mas, em casa, connosco, às vezes (vezes demais, diria) estica-se. Tem crises de adolescência. Tranca-se no quarto. Chora lágrimas de crocodilo. Dramatiza. Maldiz "esta mãe", "esta irmã" e "esta família" e tem vezes que nem a cadela escapa.
Já simulou que fugia de casa e deixou claro que ia direitinha à Segurança Social porque a irmã estragou-lhe os marcadores e a mãe não se abala de casa às 8 da noite para ir comprar outro estojo.
Mas, as suas queixas são mais vastas. "Sou vítima desta criança há dois anos. Puxa-me os cabelos, atira-me com coisas, rouba-me brinquedos, usa a minha roupa, quer sempre o que eu estou a precisar e a paciência tem limites. Quanto tiver namorado saio imediatamente desta casa". Tem momentos que é assim.
E nós rimo-nos escondidos.
Mas, esta Carolina, que podia encabeçar a manif de hoje em frente ao Parlamento, é uma completa estranha  para a professora e tenho para mim que se lhe contasse tão pouco acreditava.

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