17.4.13

Há gente do caraças

O cancro entrou na minha vida quando ainda nem se dizia assim. Chamavam-lhe "mal" que fazia o cabelo das pessoas cair.
Entrou na minha vida por portas travessas e acabou por me trazer a morte.
Naturalmente que depois disso nutro por esta doença respeito e uma vontade de ajustarmos contas.
Já entrevistei doentes que morreram meses depois. Já entrevistei sobreviventes. Já entrevistei enlutados.
Esta manhã, ao pequeno almoço, na mesa bem ao lado da minha, estava uma miúda, vestida de preto e de lenço preto na cabeça. Era visivelmente uma doente com cancro. E ainda que não fosse possível ver, não pude evitar ouvir a conversa que teve com a amiga.
Contou-lhe do dia em que soube. Do amigo com leucemia à espera de um transplante que foi dos primeiros a visitá-la. Dos tratamentos. Das despesas. Das juntas médicas para justificar a baixa e da falta das mesmas para lhe atestar a incapacidade.
Contou-lhe do tempo de vida que terá. E contou-lhe da esperança que mantém.
Mas, o que mais gostei de ouvir foi quando falou da "solidariedade dos cancerosos". "Quando vou na rua e encontro outra pessoa de lenço na cabeça, imediatamente sorrimos um para o outro. Não te sei explicar porquê...é como se estivéssemos a partilhar a doença e a dizer, eu sei o que estás a passar, essa luta também é minha".

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