29.6.14

O filho da Judite de Sousa


 Num momento destes recomenda a lucidez que generalizemos e abusemos da capa da insensibilidade de quem conhece a vida (e a morte) e todos os dias - várias vezes - se depare com a linha ténue que separa os dois mundos. Tantas mães agarram as pontas e atam-nas. Remendam fios. Tentam evitar que se rompam. Mas rompem. Todos os dias. Filhos de mães anónimas.
Anteontem, morreu uma criança de 6 anos depois de um despiste numa moto 4. Hoje, morreu a segunda. Talvez se safe a terceira.
A Judite de Sousa estará neste momento, com toda a força que lhe é possível, agarrada às pontas que lhe seguram o filho de uma morte anunciada. A vida do André Sousa Bessa não vale mais- nem menos - do que a vida de outros jovens de 29 anos que se perdem nas estradas; a jogar futebol ou em acidentes no mar ou em piscinas. Mas, a Judite tem rosto. Tem voz. Entra-nos casa dentro. É boa no que faz. E é hoje uma mãe perdida. Irremediavelmente perdida.
Eu que quase sempre lhe invejei a segurança, o salário e os sapatos, sinto (hoje) por ela uma pena que me lasca o coração.

Sem comentários:

Enviar um comentário