15.12.14

Na cadeia.


Num contexto pessoal e profissional já estive em diversas - e duras - situações. A trabalhar, identifico com facilidade, os piores momentos. Lembro-me de menos de um mês após a morte do meu pai ter feito uma reportagem sobre cuidados no domicílio. Vi, em gente acamada, o rosto da doença e da morte. O cheiro a remédio que nos revolve as entranhas e sufoca no peito. Transporta-nos para aquele leito que em poucos dias se fará lugar vazio.
A doença incomoda-me. A morte agonia e fragiliza. Mas inquieta-me a alma tudo o que é privação da liberdade. Passar quatro horas em reclusão no Estabelecimento Prisional fez ferida. Todos conhecemos o conceito de prisão efectiva e recebemo-lo com ligeireza e em certos casos, julgamento e punição. Aceitamos que a justiça se cumpra. E não lembramos para além da sentença.
Estive na cadeia pela primeira vez. Passei os portões amarelos depois da revista. Os portões fecharam-se e não bastava um gesto espontâneo para que se abrissem. Estavam fechados. Estava eu e todos, ali dentro, à mercê do guarda.
Em Guimarães não há preventivos. Todos os homens que lá estão foram condenados. Falei-lhes sem lhes conhecer o crime para não influenciar a conversa. E depois de conhecer não os consegui julgar. Não me senti ninguém para julgar quem já foi julgado. E estar preso tira o ar.

Sem comentários:

Enviar um comentário