Queixámo-nos. Que o monte de roupa cresce. Que não sentimos a pele do sofá no corpo. Que já não sabemos o que cozinhar para o almoço. Mas, atrevo-me a perguntar qual de nós gostaria de inverter os papéis? Reservar um lugar no sofá sem validade enquanto ele cozinha, trata da casa e dos miúdos? E à noite ainda te vale nas carências da alma e nos desejos da carne.
O que pode ser mais honroso para uma mulher do que viver num mundo perfeito em que assume como seu o mérito da gestão e do equilíbrio familiar sem que isso signifique subordinação? E onde a excepção confirme a regra imposta historicamente ao género. Ter um homem para quem cozinhar, mas que saiba cozinhar. Responsável pelo vinho e pelos pratos na mesa.
Na minha vida pacata acordo suja de rimel e calço meias por cima do pijama. Como pão com manteiga e tomo meia de leite. Bebo ice tea do Lidl, desde que bem fresco. Pico uma cebola com mestria. Passo a ferro, sem tábua, na mesa de apoio aos sofás. Vejo a Quinta e as Kardashian.
Mas, mais depressa que a cebola doure no estrugido descalço as meias, lavo a cara, solto o cabelo, passo batom, subo no salto.
Poucas coisas nos realizam tanto como a virtude de nos sentirmos completas.
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