24.2.16

A minha vida pacata...



Nós mulheres cedemos muitas vezes à tentação de nos queixarmos da dificuldade de o sermos. Porque nos cabe o exercício constante do nascimento à criação. E por muito que se apregoe a igualdade de género as nossas consciências continuam a mil anos luz do homem doméstico que nos adianta o almoço, separa a roupa antes de a colocar na máquina, dá banho às crianças e ainda lhes escolhe o outfit para o dia seguinte depois de verificar na meteorologia como estará o tempo.
Queixámo-nos. Que o monte de roupa cresce. Que não sentimos a pele do sofá no corpo. Que já não sabemos o que cozinhar para o almoço. Mas, atrevo-me a perguntar qual de nós gostaria de inverter os papéis? Reservar um lugar no sofá sem validade enquanto ele cozinha, trata da casa e dos miúdos? E à noite ainda te vale nas carências da alma e nos desejos da carne. 
O que pode ser mais honroso para uma mulher do que viver num mundo perfeito em que assume como seu o mérito da gestão e do equilíbrio familiar sem que isso signifique subordinação? E onde a excepção confirme a regra imposta historicamente ao género. Ter um homem para quem cozinhar, mas que saiba cozinhar. Responsável pelo vinho e pelos pratos na mesa. 
Na minha vida pacata acordo suja de rimel e calço meias por cima do pijama. Como pão com manteiga e tomo meia de leite. Bebo ice tea do Lidl, desde que bem fresco. Pico uma cebola com mestria. Passo a ferro, sem tábua, na mesa de apoio aos sofás. Vejo a Quinta e as Kardashian.
Mas, mais depressa que a cebola doure no estrugido descalço as meias, lavo a cara, solto o cabelo, passo batom, subo no salto. 
Poucas coisas nos realizam tanto como a virtude de nos sentirmos completas.

Sem comentários:

Enviar um comentário