1.8.16

À minha filha maior.


És o meu amor maior. O primeiro.
Tens 11 anos. A Constança acabou de fazer seis. A Victória tem sete. Já acusas a diferença de idades. E se, às vezes, te aproximas em cumplicidade, outras pareces demasiado crescida para emparelhar brincadeiras. Preferes o sofá e o Masterchef.
O teu mundo alarga a cada fracção de segundo, o teu humor oscila como as marés que a Constança tanto teme. Tens acessos de bondade intensa que retratas num abraço, como ontem quando a Victória apertou os dedos, que contrabalançam com raivas incontroláveis difíceis de decifrar.
Nunca sei se acordas de lua cheia ou de humor nublado.
Às vezes queres me perto, outras vezes, parece que só nos toleras à distância longuínqua. Tento lembrar-me de como era quando tinha a tua idade, mas já ando muito longe desses dias.
A minha mãe diz que era pior do que um rapaz. Talvez me lembre das vezes em que tudo me custava sem saber porquê. Sou aprendiz de mãe de pré-adolescente e, às vezes, custa-me muito ir buscar depósitos de energia, tolerância e paciência quando o teu olhar me desafia. Olho-te cada vez mais esguia como se o corpo adivinhasse os subterfúgios do teu ser. Deslizas-me nos abraços, foges-me dos beijos, mas há momentos em que só precisas do calor das minhas mãos.
Vamos mesmo ter que aprender a viver isto juntas.
Somos mãe e filha. Temos nas brechas do teu sol a vontade de sermos cúmplices e amigas. E é sobre essa luz que vou caminhar, mesmo quando a contra-luz te torna cada vez mais esguia.
És o meu amor maior. Aponta essa cena numa das tuas folhinhas perfumadas.

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