16.2.16

Hoje decidi ser mulher...



De manhã, à mesa, falamos sobre lágrimas. Mais exactamente, da falta delas.
A minha prima que me conhece desde que nasceu e que me acompanhou nas perdas acusou-me de não chorar. "Toda a gente chorou ao ver o Titanic, menos tu", sustentava ela. Não posso desmentir. O Titanic é o filme da minha vida que já vi vezes sem conta e que já pus as minhas filhas a verem, mas daí a levar-me à lágrima vai um longo caminho.
Nunca chorei com nenhum filme. Ou livro. E não sou essa pessoa a quem se arrepiam todos os pelinhos a ver vídeos de ursos, ou gatinhos no facebook.
Na verdade, acho que nunca vou chorar com a ficção.
Sinto-me constrangida a chorar. Seja à frente da minha própria mãe. Já tranquei muitas portas, já aninhei no chão para que não me vissem sucumbir à comoção de um desgosto.
Pela idade, pelas circunstâncias tenho chorado cada vez mais.
Hoje, por exemplo, decidi ser mulher, hormonalmente em descompensação.
Chorei...
Sequei as lágrimas e voltei a chorar.
Não tinha nenhum motivo válido para o fazer (ainda não conhecer a nova colecção da Zara não conta), mas inventei-o na minha cabeça...Como um bom exemplar feminino.
Fechei-me no quarto. Sentei-me na cama. Olhei-me no espelho e vi-me borrada da maquilhagem. Nariz e olhos vermelhos. E isso fazia-me chorar ainda mais.
Limpei o nariz. Lavei a cara. Calcei-me. Fiz-lhes arroz com douradinhos. E voltei a ser eu. Sem lágrimas...até ver.

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